O Râguebi Português Não Existe

José Vegar
82 min readMay 3, 2023

Termino por estes dias um ciclo de doze anos como escravo voluntário do râguebi português nos escalões de formação e de pré-competição.

Escravo voluntário é o verdadeiro estatuto do pomposamente chamado director de equipa, que na verdade é o moço da logística, o burocrata da inesgotável papelada, o sempre vergastado elo com as mães e os pais da equipa, o psicólogo dos jogadores, o mordomo dos treinadores, e o diplomata na relação tensa com o árbitro, o adversário e todos os adeptos presentes na bancada.

O único director de equipa do râguebi português que conheço que escapa a este estatuto é o imortal Lino, que não só desempenha brilhantemente a função, como consegue, nos 80 minutos de cada jogo, e em todos os jogos do seu sagrado GDD, ser treinador nível quatro categoria “Gold”, comissário de jogo independente credenciado pela World Rugby e pela Rugby Europe, decano das leis da arbitragem conhecedor de todas as alíneas, chefe da claque de Monsanto, comentador muito superior qualitativamente ao idoso Aguilar e ao recente Morgado, e pugilista quando tal lhe é, contra a sua vontade, exigido.

Ainda hoje não consigo entender como é que o Conselho de Disciplina não respeitou esta época o seu estatuto e o vergastou com um castigo inqualificável, do qual, obviamente, foi absolvido.

Neste ciclo, vi todos os treinos e todos os jogos do selvagem que é meu filho e obriguei-o a ver comigo presencialmente os jogos das equipas dos mais velhos e da equipa sénior do seu clube, bem como de muitas outras.

Significa isto que conheci intimamente durante longas horas sítios extremamente agradáveis para estar numa manhã de Inverno, como a Tapada, o velhinho natural de Monsanto, o lodaçal da Moita, os iluminados balneários do Universitário de Coimbra, o sintético da Maia, ou, numa tarde de Sol pujante, o antigo reduto dos pastéis, apenas para destacar os mais simpáticos.

Este ciclo de doze anos permitiu-me também viver experiências de enorme harmonia, bondade e fraternidade, como foram as que tive debaixo da varanda das Olaias, na bancada de madeira de Monsanto, nos infindáveis degraus do Restelo 2 ou, mais espectaculares ainda, as relacionadas com o meu desempenho como árbitro em rectângulos de jogos SUB 8 a SUB 12, com os pais em cima da linha a inundarem-me de carinho.

No entanto, seria injusto em mencionar estas como as únicas experiências fantásticas deste ciclo.

Na verdade, foi na linha lateral e na bancada que fiz e faço para a vida amigos de enorme coração, como o velho Fernando Borba, aprendi muito sobre râguebi e sobre a sociologia do râguebi nacional, vi o meu filho a crescer e, tenho de confessar, confirmei a enorme bondade da minha mulher, que até ao momento ainda não pediu o divórcio, embora eu sem apelo o mereça.

A juntar a este ciclo, executei e executo, no caso da segunda das seguintes, duas operações de enorme valor para quem queira ganhar conhecimento sobre o râguebi português.

A primeira foi o projecto 4ª Parte, o qual o meu querido amigo Sérgio Vicente Rodrigues concebeu e criou, tendo o enorme azar de me convidar a participar.

O objectivo da 4ª Parte foi sempre o de revelar e credibilizar o râguebi nacional, e isso fez com que tivéssemos de trabalhar arduamente para obter informações exactas e isentas, uma originalidade no meio, o que nos desvendou um vasto arsenal de factos históricos, contextuais e conjunturais.

A segunda é a de assistir todas as semanas ao que escolho ser a joga da jornada, e a todos os transmitidos pela Rugby TV, o que, no primeiro cenário, a princípio colocou em cima de mim muitos olhares curiosos e desconfiados, subordinados ao princípio, “mas se este tipo não é dos nossos, o que é que está aqui a fazer?”.

Passados estes anos todos, e todos os outros anteriores da década de 80 onde ninguém me conhecia, é agora mais aquele olhar “lá está aquele desgraçado que não tem mais nada para fazer, a ver se o Pedro Pissarra lhe paga uma jola”.

O ciclo e as duas operações referidas permitem-me o atrevimento de pensar que tenho algumas ideias para partilhar com os que têm paixão pelo râguebi português.

O meu racional fundamental, que será o fio condutor deste texto, é o de que a imediato, curto, médio e longo prazo o nosso râguebi não é sustentável, tanto ao nível competitivo, como aos níveis desportivo, financeiro e de adeptos.

Por outras palavras, sobrevive e irá sobreviver em estado crítico.

Assento esta minha ideia nos racionais que começarei de seguida a partilhar:

1) O râguebi português não pertence ao imaginário nacional

2) O râguebi português não é democrático

3) O râguebi português é destruído pela sua comunicação

4) O râguebi português não é competitivo

5) O râguebi português exclui-se do mundo contemporâneo

Assim, enceto desde já a partilha dos meus racionais, tendo posto de guarda o Wallis e o Bello para me protegerem de uma possível placagem dominante do Senhor Presidente Amado da Silva e de algum elemento mais duro da Bancada de Honra dos Senadores.

1) O râguebi português não pertence ao imaginário nacional

É o mais invisível, mas mais grave, drama do nosso râguebi, apesar de figuras icónicas como o hoje Pai e Tio Portela, o sempre entusiasta Engenheiro Sevinate Pinto filho, como se viu nas imagens Ruby TV de 22 de Abril de 2023, o invasor Presidente Lucas, o dedicado “Esparguete” e tantos outros, nascidos, criados e vividos nos 22 do adversário, no caso do Pai e Tio Portela a dar nos anos de glória trouxas lendárias no Serevi, e a lançar agora trouxas lendárias na bancada, não o saberem ou não o admitirem.

Numa frase, o râguebi nacional não existe para os portugueses, vivendo num gueto totalmente isolado.

A verdade é que o râguebi português tem heróis e momentos históricos, mas a população portuguesa não os conhece.

Os portugueses não conhecem o Cajó Reis, o Carlos Nobre, os Durão, os Mateus, os Uva, os Vareta, os Lobo e muitos outros, centuriões ou não, ou seja, não lhes dão o estatuto mítico que o nosso imaginário colectivo dá ao Eusébio, ao Jesus Correia, ao Carlos Lopes e à Rosa Mota, ao Joaquim Agostinho, ao Futre e ao Cristiano.

De igual modo, embora eles tenham existido e existam, os portugueses não viveram e não conhecem os momentos do nosso râguebi equivalentes a Wembley em 1966, a Los Angeles em 1984, à Volta à França de 1979 ou à recente final do Europeu.

A consequência da ausência dos melhores dos nossos e dos seus grandes momentos no imaginário português é trágica.

Em qualquer lugar remoto de Portugal, urbano ou rural, de Bragança a Tavira, nenhuma miúda e nenhum miúdo que sonhe brilhar no desporto, excluindo os que nascem no seio de algumas minorias de número muito limitado, e um importante contingente de valentes, pede ao pai para comprar uma oval na Decathlon.

Este traço estrutural retira um gigantesco poder político, financeiro, social e desportivo ao râguebi.

Escrito de um modo violento, coloca o nosso râguebi num gueto onde o poder político, económico e populacional não encontra razão para entrar.

A consequência, que muitos dos nossos recusam enfrentar, é que só um número residual de jovens portuguesas e portugueses quer jogar râguebi, e um universo ainda mais residual da população nacional dedica atenção ao râguebi.

As raras e tímidas panorâmicas feitas pela televisão no Estádio do Restelo nos “testes” de 2022 são uma das provas empíricas do que escrevo.

Os quantitativos do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da base de dados PORDATA, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, os mais sólidos que existem para o nosso tema, sustentam esta minha hipótese teórica.

Venham então comigo conhecer e analisar com todo o cuidado os números, porque os factuais quantitativos é que nos mostram a realidade e é com eles que eliminamos todos os mitos e ficções.

Aliás, é uma pena que na federação só três pessoas olhem para as tipologias de números e percentuais disponíveis, sendo que o Nuno Salvador olha todos os dias, e na esmagadora maioria dos clubes sejam os carregadores de piano, como os nossos gloriosos Ana Rita e Jorge Paixão, a o fazerem, em lugar dos decisores, tirando honrosas excepções.

Comecemos pelos números de contexto geral demográfico.

A tabela Pordata “Total População Residente por faixa etária 2021”, actualizada pela última vez em Janeiro de 2023, indica-nos que existem 433 010 crianças na faixa 5–9 anos, 489 903 na faixa 10–14 anos, 528 295 jovens na faixa 15–19 anos, e 558 327 e 542 624 jovens adultos nas faixas 20–24 e 25–29 anos, respectivamente.

Temos então um total, partindo do princípio de que a máquina calculadora chinesa não tem vírus, de 2 milhões, 552 mil e 159 crianças, jovens e jovens adultos.

Analisemos agora quantos destes imaturos, inseguros e sempre protegidos bebés, devido à total revolução educacional registada nos últimos vinte anos, destruindo assim a identidade nacional, que assentava no “rústico homem português” capaz de se adaptar a tudo, dão o litro, isto é, fazem desporto com creditação.

Os dois referenciais validados que uso, os já referidos INE e PORDATA, dão-nos apenas o recorte dos desportistas federados, adoptando o protocolo internacional, excluindo o desporto escolar e o de rua, que me formou a mim, o Pastor de Ovelhas e tantos outros, e que agora, como lamenta o professor Carlos Neto, está extinto.

Como é perfeitamente claro e compreensível, os #lulusparamonsantosódeuber e #soutãolindo de quem sou escravo há 12 anos, a equipa onde o meu selvagem joga, por nada acreditam que quando entrava em campo, em competição oficial federada, era sempre saudado por sacos de urina lançados pelas mães, irmãs e namoradas, e não pelos pais, do adversário.

A PORDATA, na tabela “Praticantes desportistas federados, total e por todas as federações desportivas 2020”, com última actualização em Outubro de 2021, dá-nos um total de 587 812 atletas.

O INE, no documento “Desporto em Números 2022”, publicado este ano, que aconselho todos a lerem, regista um total de 483 829 praticantes.

Façamos aqui uma pausa na partilha dos quantitativos para uma primeira nota.

Tomando como referência a PORDATA, e novamente se o “chip” da calculadora não tiver sido “virulizado” pelos chinas, temos então 1 milhão, 964 e 347 desgraçadas e desgraçados entre os 5 e os 29 anos que nunca sentiram o orgulho de vestir a camisola.

Isto é um formidável dado quantitativo para o nosso râguebi.

Na verdade, como irei desenvolver na derradeira secção deste escrito interminável, inútil e que alguns erradamente classificarão como ofensivo, temos aqui uma oportunidade de ouro, dado que o nosso râguebi é, a par do xadrez, o desporto mais inclusivo que existe.

Mas voltemos ao quantitativo mais recente, o do INE, para descobrir o que jogam com o emblema no peito os 483 829 mil.

Comecemos pelos gigantes, anotados pelo INE

O futebol tem 126 066, a natação 46 980, o voleibol, 40 771, o andebol 31 447, e o basquetebol 18 020.

Como escreve o INE, no documento que cito, “(…) O futebol foi a mo­dalidade com maior número de praticantes (26,0% do total), seguida da natação (9,7%), voleibol (8,4%) e andebol (6,5%).

Nas modalidades com maior número de ins­critos, os homens predominavam no futebol (93,3%) e andebol (57,9%).

As mulheres destacaram-se na ginástica (86,8%), sendo maioritárias na prática de pati­nagem (56,5%), voleibol (55,1%) e natação (52,6%).

Em 2022, os praticantes de alto rendimento totalizaram 712, dos quais 62,1% eram ho­mens e 37,9% eram mulheres. Do total, cerca de 5/6 tinham idade inferior a 30 anos (…)”.

Sobre este tema, faço aqui uma segunda nota, destinada à atenção do Senhor Presidente da Federação.

O INE, no documento que uso, refere que recolheu os dados no Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ).

No documento, o INE mostra que a Federação Portuguesa de Rugby não entregou os dados.

Regressemos mais uma vez aos quantitativos, para fúria do meu amigo Pedro Souto, autor e intérprete do imortal grito rouco “Técnico, técnico”, audível até no meio do Pantanal e na ponta Norte da Comporta, um homem sempre dedicado, mas de acção, que estará já a “fritar”.

As restantes modalidades, “exceliza” o INE, têm 220 605 atletas.

Voltemos então à PORDATA, porque é a entidade com dados mais recentes, os de 2020, para saber o que jogam ou praticam os quase 230 mil.

Recorto aqui apenas os “maiores dos pequeninos” e alguns outros importantes para nossa referência, porque a lista de desportos federados é longa, indo do xadrez, como já apontei, à columbofilia.

Assim, temos 19 243 tenistas, 19 217 “atléticos”, das disciplinas de atletismo, 16 542 ciclistas, 15 431 patinadores, não incluindo o “hóquei em patins” em equipa, 15 292 golfistas, 14 056 judocas, 4 083 “padelistas”, 2 138 surfistas, e 2 055 “canoeiros”, de canoagem.

Neste ponto, gostaria de alertar de novo que estamos a quantificar o universo federado, sendo que, por exemplo, as entidades agregadoras em surf e padel, escola, no primeiro caso, associação e clube, no segundo, têm muitos mais praticantes.

Ora então, vamos ver o que tem a nossa malta do râguebi.

Sabendo que estou a desesperar os meus abençoados leitores, quero informar que infelizmente não existem quantitativos oficiais publicados, o que é uma deficiência gravíssima que irei desenvolver na terceira secção deste texto.

Deste modo, apenas graças à bondade de algumas almas santas, consegui acesso a documentos internos da federação sólidos, levantados entre o último trimestre de 2022 e Março de 2023.

Temos então um total de 5 699 atletas, num documento, 4 943, no outro documento, sendo que o último registo federativo, muito recente, aponta para 6 631 atletas.

Nas últimas dez épocas, atingimos o pico na época 2013–2014, com 6 683 jogadores, e houve épocas onde tivemos apenas 3 mil atletas.

Tomando como referência o número 4 943, porque é o que disseca o número total por geografia e escalão, 883 jogam a Norte, 698 no Centro, e 3 362 no Sul, que parte da Área Metropolitana de Lisboa e acaba no Algarve.

Partindo de outro ângulo, 1 855 jogam dos SUB 8 aos 14, e apesar de tenrinhos já aprenderam em casa o tradicional “baixinho, placa baixinho”, 1404 jogam nos SUB 16 e SUB 18, já não podendo ouvir os respectivos capitães a gritar no balneário “#$#$%#alho, é mocada nos gajos, mano, #$#$da-se”, e 4 943 jogam para dar cabo da cabeça à Maria Heitor e ao Paulo Duarte, isto é, são seniores.

Três notas analíticas, antes de irmos aos restantes quantitativos.

Somos muito poucos, e não temos massa crítica para competir com os gigantes, com os maiores dos pequeninos e com a grande maioria dos pequeninos.

Assim, não temos visibilidade parental, financiamento e poder político.

O fosso entre os que jogam formação e os que jogam competição sénior é gigantesco, ou seja, a pirâmide desejável, que a formação alimente a competição, é deficiente.

Em paralelo, segundo os documentos federativos, desistem 50 por cento dos atletas que chegam a sénior.

Por último, não temos crescimento há dez anos, sendo que há áreas geográficas onde o número de atletas diminui, e outras onde este não cresce há mais de uma década.

No entanto, não desesperemos.

O Senhor Presidente da federação, Engenheiro Carlos Amado da Silva, com reeleição formalizada em 20 de Abril para um mandato até 2027, tem um plano para nos salvar a todos, embora não o tenho posto em prática no mandato 2019–2023, quando começou as suas funções.

Em declarações à Agência Lusa, um dia depois da sua reeleição, o Senhor Presidente declarou, cito o “take” da Lusa, que vai ser iniciado “um projeto de divulgação do râguebi” por “todo o país”, para regressar “rapidamente aos 10 mil” atletas federados e, “em 10 anos, chegar aos 20 mil” no râguebi masculino, além de “passar das atuais cerca de 500 mulheres inscritas para 1.000”.

Como defende o Senhor Presidente, parecendo ter conhecimento deste meu escrito, “sem isso, o râguebi não é sustentável. Vamos divulgar muito mais a modalidade e, sobretudo, pensar que o râguebi tem de ser uma modalidade nacional. Vamos apostar forte nisso”.

Aguardamos todos por este feito, claro, trata-se de aumentar o número de atletas em quase 50 por cento, masculinos e femininas, e mais uma vez só não entendemos muito bem porque é que não foi esta a prioridade do Senhor Presidente em 2019–2023.

Aproveitamos também para corrigir o Senhor Presidente, envolto numa falha de que não tem culpa, mas que se deve certamente aos seus serviços, quando declara que quer regressar “rapidamente aos 10 mil”, já que, como referi, o recenseamento dos serviços da federação aponta que desde 2004–2005 nunca passamos, no pico da adesão, de 6683 praticantes.

Passemos agora a outros quantitativos tão importantes como os que partilhei até este parágrafo e diria mesmo, se escrevesse “teasers” para séries da Netflix, inquietantes, perturbantes, avassaladores.

Refiro-me aos dados de recursos humanos, estruturas e financiamentos colhidos pelo INE.

Em relação a estes três domínios, alerto para a metodologia, citando o documento, que “tendo por base os trabalhos realizados pelo Eurostat com vista à obtenção de um referencial comum para as “Estatísticas do Desporto”, e a “Definição de desporto de Vilnius”, foi consensualizada a utilidade de considerar indicadores provenientes das seguintes áreas estatísticas: 1) emprego desportivo 2) atividades das empresas do sector desportivo; 3) comércio internacional de bens desportivos; e 4) Índice de Preços no Consumidor de bens e serviços desportivos”.

Assim, quantifica o INE “em 2021, existiam 9 893 clubes desporti­vos (menos 10,6% do que no ano anterior)”.

Nós temos, recorrendo aos documentos federativos que uso, 51 clubes.

Regista ainda o INE, num campo fundamental para nós, que “em 2022, foram emitidos 8 265 títulos profis­sionais, dos quais 67,3% foram atribuídos a treinadores de desporto, seguidos dos técni­cos de exercício físico (24,7%) e dos diretores técnicos (8,0%)”.

Temos assim, em 2022, 5 564 treinadores, mulheres e homens, e 2 040 técnicos de exercício físico, mulheres e homens.

Nós temos, e aqui mais uma vez benefício da bondade de almas caridosas, um pouco mais de 200 treinadores creditados, sendo que a grande maioria é de nível um, um contingente limitado de nível dois, e um final restrito de nível três.

Esta certificação é dada pela federação, e não por uma universidade ou politécnico, e um importante grupo certificado não está no activo.

Mesmo se estivesse, uma conta básica, a do número de clubes multiplicado pelo número de treinadores necessários para cada escalão, dos SUB 8 aos seniores, aponta para 306 treinadores, sendo assim superior à mão de obra qualificada existente.

Por outro lado, não temos números compilados de “técnicos de exercício físico” e de “directores técnicos”.

Significa o exercício comparativo feito nos últimos parágrafos que quase nenhum perito em desporto formado e detentor de título profissional vem trabalhar para o râguebi.

Acrescento outros dois quantitativos do INE, para reforçar a minha tese de que estamos num gueto.

Assim, “no ano lectivo de 2021–22, inscreveram-se 10 973 alunos em ciências do desporto e desporto, e no ano lectivo 2020–2021 licenciaram-se 2 510 alunos nas duas áreas superiores referidas”.

Obviamente, não existe um quantitativo sobre quantos destes vieram trabalhar para o râguebi, mas arrisco a dizer, a partir do que conheço no terreno, que são menos de vinte.

Continuando esta série quantitativa, que recordo está já a “fritar” tanto o Souto como o Doutor Valadas, apesar do seu distinto currículo em Finanças, vamos então aos dados económicos.

Antes do mais, escreve o INE, “em 2022, trabalhavam no sector desportivo 44,5 mil pessoas, e em 2021 operavam no sector desportivo 14 368 empresas, que geraram um volume de negócios de 1,9 mil milhões de euros e um VAB de 731,9 milhões de euros”.

Nós, como já escrevi, temos 51 clubes, duas empresas que têm o râguebi como negócio parcial, e teremos, segundo a minha amostra empírica, porque mais uma vez não existem métricas oficiais, entre treinadores, creditados e não creditados, e todas as outras tipologias funcionais referenciadas pelo INE, de 1 377 a 2 000 profissionais, dos quais só 10 a 20 por cento serão remunerados.

As quantias financeiras geradas e consumidas pelo nosso râguebi, isto é, pelos nossos clubes e pelas duas empresas, não são públicas, claro, com excepção daquela gerada pela federação, a que chegarei em breve.

Mas um número próximo do valor de orçamento por clube é relativamente fácil de atingir, levantando a grelha métrica indicada.

Se partirmos de uma mensalidade média de 50 euros por jogador de formação, e a multiplicarmos pelo número de atletas, excluindo seniores, que não pagam, e também pelo número normal de meses pagos de uma época, dez meses, juntando uma quota média de cinco euros por um encarregado de educação, ou seja se tomarmos as habituais fontes de financiamento como variáveis, temos um valor de referência.

Partindo desta matriz, a receita bruta, reforço a condição “bruta”, anual do nosso desporto, excluindo a da federação, cujo financiamento analiso nos parágrafos seguintes, como referi, é de 3 milhões e 259 mil euros.

Dividindo a receita hipotética pelos 51 clubes, e confiando no “chip” antiquado da máquina, temos um valor bruto anual por clube de 63 mil 902 euros.

Não incluo, por razões metodológicas que passo a explicar, as receitas tradicionais clubísticas dos patrocínios, na esmagadora maioria feitos por mães ou pais de jogadores, da venda de equipamentos para os jogadores e de mercadoria “fan” para adeptos, do aluguer e rentabilização do espaço para outros desportos e actividades, bilhetes para os jogos do “Honra” e, acima de todas, dos barris de cerveja, croquetes e bolos de fatia.

A minha oposição metodológica tem a ver com o facto de que em todas as categorias mencionadas no parágrafo anterior as disparidades de receitas entre clubes serem enormes, o que transforma qualquer média hipotética numa média real distorcida.

Neste ponto, gostaria de confessar uma das minhas grandes desilusões nesta década e mais dois de escravo.

Acreditava eu, tendo por base a sociologia do râguebi nacional, que dia de jogo seria dia de regresso à infância, com croquete feito com amor pela avozinha e bolo de iogurte acarinhado pela mamã, e só tive direito a “brownies” do Continente e merendas do Lidl, inclusive em Monsanto e no BRP, o que é o cúmulo do sacrilégio.

São honrosas excepções a esta penitência de doze anos um grupo fabuloso de mães do CDUP em 2018, que até sandes de pesto caseiro fizeram, os meus amigos do CRE, com o melhor porquinho de bolota do mundo, e, acima de todos, a Dona Isabel Reis, que faz uma bôla de chorar.

Retomando a minha amostra empírica acumulada durante doze anos, arrisco a escrever, acumulando mensalidades e quotas com as variáveis que invoquei em parágrafo anterior, que o orçamento anual dos seis clubes cimeiros vai de 200 a 300 mil euros, e dos clubes intermédios e pequenos de 50 a 100 mil euros.

Arrisco igualmente escrever que os escassos clubes de topo, todos de Lisboa, numa boa época, isto é, com acumulação ideal de patrocínios, inscrição de atletas, rentabilização do espaço e muitos barris, cheguem a um valor entre os 400 mil e os 500 mil euros.

Passemos então à métrica final, “até que enfim”, está o Souto a pensar, que é a do financiamento do desporto.

O INE, citando sempre o mesmo documento, alerta-nos para a fonte pública de financiamento autárquica, nuclear, mas sempre esquecida.

Assim, escreve o instituto dos “exceis”, “em 2021, as Câmaras Municipais afetaram 323,3 milhões de euros às Atividades e equi­pamentos desportivos (mais 7,4% do que em 2020), representando 3,3% do total da despe­sa dos Municípios”.

Acrescenta o instituto que “(…) destacaram-se, pelo peso no total, as despesas afetas à Construção e manu­tenção de infraestruturas desportivas (41,2%) seguidas das Atividades desportivas (27,8%) e das Associações desportivas (24,1%)”.

E, finaliza o instituto esta alínea, “a despesa média por habitante em Atividades e equipamentos desportivos no total das au­tarquias foi 31,2 euros, tendo-se destacado as regiões do Algarve (60,0 euros) e do Alentejo (47,3 euros). Pelo contrário, a Região Autó­noma da Madeira e a Área Metropolitana de Lisboa registaram valores inferiores à média nacional (12,9 euros e 18,0 euros respetiva­mente)”.

Não sabemos obviamente, porque os clubes não nos informam, qual o valor das fatias de financiamento autárquico entregues ao nosso desporto, a não ser no valor disponibilizado pela federação, que, reitero, tratarei daqui a linhas.

E terminamos em deslumbrante beleza o financiamento do desporto com o grande financiador nacional, o verdadeiro Mega King Kong da “maçaroca” que mete isto tudo a activar, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) que, recordo aqueles sempre a reclamar da carga fiscal nacional, recebe, gere e distribui verbas de natureza totalmente pública, ou seja, vindas do nosso suor e trabalhinho.

Assim, para não deixar dúvidas, o INE escreve que “em 2021, o financiamento do Instituto Portu­guês do Desporto e Juventude às Federações desportivas atingiu 41,0 milhões de euros (me­nos 3,0% do que no ano anterior). O Apoio às Atividades desportivas destacou-se com 47,9% do total do financiamento, supe­rando a Alta competição (38,3%)”.

Já a PORDATA, na sua tabela “comparticipação financeira por financiamento público de federações desportivas 2020”, com última actualização em Outubro 2021, a mais recente publicada por esta entidade, coloca o IPDJ a dar anualmente 40 milhões, 802 mil e 410 euros.

Destes, a PORDATA assenta primeiro os valores encaixados pelos gigantes.

3 034 992 vão para o futebol, 3 006 120 para o atletismo, 2 440 000 para o andebol, 2 285 727 para o basquetebol, 2 165 840 para a natação, 1 980 000 para o voleibol e 1 522 844 para o judo.

Assenta depois o financiamento dos maiores dos pequeninos.

1 284 000 vão para o ciclismo, 1 165 380 vão para a patinagem, 745 920 para o ténis, 415 000 para o golfe.

A PORDATA não tem valores para surf, padel e canoagem.

A PORDATA coloca em 2020 o IPDJ a dar ao nosso râguebi 900 mil e 120 euros, enquanto o documento da federação “Plano de Atividades e Orçamento 2022”, o último desta tipologia colocado na plataforma digital do organismo, mas para manter a tradição nunca noticiado, refere que o IPDJ entregou em 2022 ao nosso râguebi 934 mil e 120 euros.

O IPDJ é de longe o maior financiador da federação e do nosso râguebi, cobrindo perto de metade do orçamento necessário apontado no documento referido, que é de 2 milhões, 392 mil e 475 euros, seguido pelas federações internacionais, World Rugby e Rugby Europe, com 364 mil e 66 euros.

A federação, continuando a citar sempre o mesmo documento, escreve ter “receitas próprias”, é este o termo que usa, “de 817 mil e 648 euros, entregues por taxas de inscrição 187 648,06, donativos 200 000,00, outros (cartões) 50 000,00, autarquias 75 000,00, patrocínios 250 000,00, receitas apostas online 16 000,00, loja online 15 000,00 e Rugby TV, 24 000,00”.

Não me perguntem, por favor, qual a natureza financeira de algumas destas rubricas, bem como por que processos é que outras têm as receitas elencadas, porque não sei e a federação, novamente, não informa.

Peço desculpa, ao meu caro Souto, e a todos os leitores, mas vou incluir uma métrica derradeira, porque é muito importante, fixada pelo INE no documento que abundantemente cito.

Quantifica o instituto que “em 2022, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho) nas atividades do sector desportivo foi 1 366 euros (mais 4,7% do que em 2021). A componente regular des­ta remuneração aumentou 1,5%, para 1 078 euros e a remuneração base aumentou 0,9%, para 1 024 euros”.

Destas, isola o instituto “destacaram-se as Ativi­dades dos clubes desportivos, com a maior remuneração bruta total mensal média por trabalhador (2 645 euros), com a componen­te regular de 2 043 euros e a remuneração base de 1 973 euros”.

Pois, dirão os nossos directores técnicos, treinadores, preparadores físicos, fisioterapeutas e administrativos profissionais.

A compilação acumulada de quantitativos aqui recortada não nos dá margem alguma de fuga, e sustenta a minha hipótese teórica de que o facto de não pertencermos ao imaginário nacional colectivo faz-nos pagar um preço elevado.

Qualquer que seja o indicador manipulado, o nosso râguebi é um desporto de gueto, irrelevante para políticos, empresas, entidades e para a maioria das famílias portuguesas, urbanas e rurais.

No entanto, como mostra o indicador “população 5–29 anos não federada” temos uma margem enorme para crescer, alavancados num factor de valor acrescentado, que irei desenvolver na última secção deste texto.

A condição de não termos crescido nesta década, e segundo a minha convicção não irmos crescer na próxima, deve-se igualmente aos elementos que vou trabalhar nas secções seguintes deste escrito.

2) O râguebi português não é democrático

O problema fundacional do râguebi português, que nenhum perito da mecânica interna do mesmo menciona publicamente, mas que contamina toda as estruturas e actividades do nosso desporto, é o de que o Poder, ao nível da cúpula central, isto é a direcção da federação, e ao nível das cúpulas nucleares, isto é, os clubes, não obedece às regras democráticas em vigor em Portugal e no mundo ocidental.

Neste ponto, gostava de fazer uma declaração de interesse.

Fiz parte da lista do candidato Lourenço Thomaz à presidência da Federação em 2019, que, como todos sabemos, foi derrotada pela lista do actual presidente, Carlos Amado da Silva.

Tal pertença não me impede de analisar racionalmente, e sem reserva, neste texto o mandato do Senhor Presidente Amado da Silva, destacando o que considero forças e falhas, bem como o de alguns dos seus profissionais executivos, que, também em algumas dimensões, têm feito um trabalho de elevada qualidade.

Por outras palavras, na política e no Poder, porque é isso que a eleição para a federação é, estar de um lado da barricada não impede que se observe de modo isento o trabalho dos que estão em outro lado da barricada.

Enfim, pelo menos a mim não impede.

Efectivamente, o problema não é o Presidente da Federação X, ou a direcção do Clube Y.

O problema fundacional é o do processo de eleição para a federação e para a direcção da maioria dos clubes, com importantes excepções, não ser democrático.

Para a federação são os membros das direcções dos clubes que votam, sendo designados por delegados, existindo clubes com mais votos do que outros.

Existem ainda votos atribuídos a representantes de treinadores, jogadores e árbitros, quando se entendem para apresentar delegados, mas são residuais no universo controlado de votos.

Para a grande maioria das direcções dos clubes, não existe sequer a distribuição aos atletas e sócios de um programa estratégico, e não são feitas eleições.

Como diz um veterano do nosso râguebi “basicamente, chega-se à frente quem quer, quem pode, e quem sabe que não vai ser impugnado”, pelas legais e regulamentares assembleias gerais dos clubes, que, de novo, raramente se realizam.

Este processo de eleição, na federação e nos clubes, se tivermos como referência a teoria da ciência política e da sociologia, é de tipologia oligárquica.

Daqui, como escrevi, surgem todos os problemas fundacionais, no sentido em que geram todos os outros, do nosso râguebi.

A montante, os candidatos à presidência da federação e à direcção de cada clube não apresentam um plano estratégico que sirva o seu público nuclear, atletas e sócios, que no caso deste último grupo são maioritariamente pais e suportam financeiramente os clubes, mas o que cada candidato acha que é o interesse dos presidentes dos clubes, no caso da eleição para a federação, e o que cada direcção de clube acha que é o interesse do clube, sem consultar nenhum “stakeholder” antes e durante o seu mandato.

A jusante, o processo de eleição oligárquica bloqueia, ou torna extremamente árduo, que quadros técnicos, atletas e sócios exerçam o poder básico da democracia que é o de vigiar e de regularmente pedir contas, não financeiras, mas globais, isto é, desportivas, humanas e todas as outras, aos seus líderes.

A este propósito, podemos tomar como exemplo a reeleição do Senhor Engenheiro Amado da Silva para presidente da federação, formalizada, como já referi, a 20 de Abril de 2023.

Além de não ter sido objecto de informação a todos os “stakeholders” do râguebi, mas apenas das direcções dos clubes, o processo, e o resultado, foram totalmente obscuros.

Num primeiro comunicado enviado às direcções dos clubes, os serviços de comunicação da federação informam que “a Assembleia-Geral que elegeu os novos órgãos sociais da FPR decorreu esta noite, no Amazónia Jamor Hotel, em Oeiras, tendo ido a votos uma única lista, a qual foi aprovada com mais de 70% dos votos dos delegados”.

O Senhor Presidente não deve ter concordado com a aritmética feita pelo seu serviço, já que o obrigou a enviar novo comunicado três horas depois do primeiro, onde se informa que “a Assembleia-Geral que elegeu os novos órgãos sociais da FPR decorreu esta noite, no Amazónia Jamor Hotel, em Oeiras, tendo ido a votos uma única lista, a qual foi aprovada sem nenhum voto contra e com o apoio de mais de noventa por cento dos Clubes”.

Já a Agência Lusa, que tem como dever ser rigorosa, esperando nós que o seja, porque isto com jornalistas nunca se sabe, escreve, no “take” que já citei, que o Senhor Presidente foi reeleito com “os votos de todos os 63 dos 89 delegados eleitos que votaram, em Oeiras, ou que enviaram o voto por correspondência”, o que perfaz 70.8 por cento dos votos.

Mas podemos também tomar como exemplo os castigos desportivos aplicados a dirigentes, quadros técnicos e jogadores, pelo conselho de disciplina e pelo conselho de justiça, órgãos independentes, ancorados na estrutura da federação.

Numa semana, através do boletim informativo semanal da federação, sabemos que ao jogador Z, de formação ou sénior, foi atribuída a suspensão de 4 semanas, na semana seguinte sabemos que foi absolvido.

Não sabemos nunca é o conteúdo quer do relatório do árbitro, que faz a denúncia ao conselho de disciplina, quer o teor do acórdão que o condena ou absolve.

E podemos tomar como exemplo derradeiro tantos clubes, dos quais não sabemos, ano após ano, qual é a sua estratégia de formação.

Felizmente, podemos ler no comunicado que cito, o Senhor Presidente da FPR tem consciência da ausência de democracia nos processos do seu organismo, referindo que “nem todas as bolas são redondas, e o rugby é um desporto único, com valores como a solidariedade, o respeito ou a integridade, que merece ser conhecido por todos”.

Saudamos o “merece ser conhecido por todos” do Senhor Presidente.

Ainda a jusante, o desenho oligárquico do processo impede a transparência das decisões, tanto a nível da federação como dos clubes, fazendo com que as direcções, da federação e dos clubes, sejam sensíveis à influência dos inúmeros grupos de pressão existentes no nosso râguebi, inorgânicos, mas sempre activos através dos whatsapp,

O único grupo sociológico do râguebi, dos que identifiquei ao longo destes anos, que não exerce pressão é o dos Sábios, isto é, o de antigos jogadores, treinadores e dirigentes que estão sempre pronto para aconselhar, mas que nunca interferem.

Todos os outros agem em pressão.

Os Senadores, dirigentes veteranos, dirigentes no activo e antigos praticantes activistas, lutam pelo seu permanente reconhecimento e autoridade, os Companheiros de Balneário, antigos treinadores e jogadores amigos dos actuais dirigentes, treinadores e jogadores, acham que sabem mais do que todos os outros, os Teóricos Que Temos, treinadores e directores técnicos e de formação, tentam moldar competição e formação à sua visão, o Parental Qualificado, pais de jogadores que já foram jogadores, treinadores ou dirigentes, bem como mães que são irmãs, mulheres, tias e mães de antigos jogadores e de actuais jogadores, tentam dirigir os destinos conforme o que acham ser o interesse dos seus filhos, e os Manos, jogadores e seus amigos e amigas, e Manas, e seus amigos e amigas, lá vão andando.

O grupo com legitimidade directa para ter poder, porque sustenta entre 80 e 100 por cento das finanças dos clubes, o Parental Desqualificado, isto é, sem ligação prévia ao râguebi, onde me incluo, não tem poder algum.

Tornando os parágrafos anteriores menos abstractos, coloco aqui apenas dois dos extensos problemas do nosso râguebi, eternamente irresolúveis, devido ao processo que refiro.

Ao nível da federação, deve esta procurar a implementação de um plano de profissionalização dos jogadores seniores ou deve mantê-los no regime híbrido actual de semiprofissionalismo intermitente de alguns e amadorismo de outros.

Ao nível dos clubes, deve a maior fatia do orçamento ser canalizada para a competição ou para a formação.

Não defendo nestes parágrafos, de modo algum, que as direcções da federação e dos clubes regularmente em exercício não tenham como fim estratégico o bem do râguebi português.

A esmagadora maioria das direcções, da Lousã a Cascais, do Porto a Loulé, é formada por homens que amam o râguebi, querem o melhor para os seus clubes e têm como desejo incondicional tornar melhor o râguebi nacional.

O problema está em que, como referi, o processo instalado de Poder não permite as operações democráticas fundamentais de equilíbrio, controlo e transparência.

Com um processo de eleição democrática, para a federação e para o clube, basicamente o normal de um cidadão um voto, no nosso caso um atleta maior de idade um voto e um sócio um voto, o problema fundacional fica resolvido.

Ou seja, tanto a federação como o clube ficam obrigados a partilhar durante a campanha eleitoral e a cumprir durante o mandato o que as suas bases definem na eleição como prioridade estratégica.

Posso obviamente alegar, como tantos conhecedores deste tema alegam, que numa eleição para a federação e para o clube a esmagadora maioria dos eleitores votará tendo em conta o seu interesse particular.

Os sócios, na esmagadora maioria pais, votarão em candidatos que levantam a bandeira da formação como prioridade.

Dirigentes, treinadores e atletas de SUB 18 em diante votarão no candidato, federativo e do clube, que coloca a competição acima de tudo.

Mas isto não é mais do que exercer e aceitar democracia, o mais perfeito de todos os sistemas de governo, todos eles sempre imperfeitos.

O que importa sublinhar são três factos que serão gerados pela introdução do processo democrático de eleição.

Os candidatos têm de servir o interesse de todos os eleitores.

Os candidatos ficam sujeitos a escrutínio e a total transparência das suas decisões.

Cada eleitor recebe a responsabilidade gerada pela sua decisão que determinará o rumo do râguebi português, ao nível da federação e do clube, durante quatro anos.

Assim, para concluir esta secção, para o râguebi português, neste momento, é totalmente indiferente que o presidente da federação seja o Senhor X ou o Senhor Y, ou que a direcção do clube seja a Z ou a G, como já enunciei.

O que é fundamental é que o Poder passe a ser democrático.

Assim, se quer ficar para a história, o Senhor Presidente Amado da Silva tem de alterar os estatutos da federação, e exercer pressão junto dos clubes para que façam o mesmo com os seus.

Termino esta secção sublinhando que como o universo de eleitores é diminuto, algures entre os 20 mil e os 30 mil, todo este processo, incluindo votações, pode ser encetado e fechado no habitual longo Verão do râguebi nacional.

3) O râguebi português é destruído pela sua comunicação

Curiosamente, este é o racional que conheço melhor, devido ao meu perfil profissional, mas é aquele sobre o qual tenho mais dificuldades em escrever.

Tal acontece porque a comunicação do râguebi português, tanto ao nível da federação, como dos clubes, salvo raras excepções, é tão incompetente, tão grotesca e tão nociva, que nunca sei porque dimensão devo encetar a reflexão.

Mas podemos sempre começar por uma tarde de Sábado na belíssima Tapada, quando não há vento nem o Sol torra, pelo balneário atribuído pela Agronomia ao Técnico, para disputa de um jogo da Taça de Portugal.

Como já apontei neste escrito, o objectivo estratégico da 4ª Parte, infelizmente o único projecto profissional de informação sobre o râguebi português surgido na última década, juntamente com a página digital de comunicação pericial do João Paulo Bessa, foi o de “revelar e credibilizar” o nosso desporto.

Assim sendo, o nosso alvo de trabalho eram os jogadores e os treinadores e os outros profissionais envolvidos, ao nível de clubes e de Lobos XV, Sevens e SUB 20.

Procurávamos primeiro obter matéria para “credibilização”, estando presentes nos treinos e jogos, falando com os profissionais sobre os seus métodos, personalidades e metas.

Como explicou uma vez o Lois Pissarra “falamos com eles porque eles estão sempre presentes”.

Procurávamos também dados para “revelação”, porque não há desporto sem heróis, e uma das nossa rubricas de bandeira era a de publicar a constituição das equipas bem como todas as ocorrências dos jogos, numa narrativa cativante, imagética e textual.

Por incrível que pareça, isto não era feito antes da 4ª Parte, e é agora feito, pela federação e por alguns clubes, de um modo correcto na dimensão gráfica, mas de um modo preguiçoso na dimensão narrativa.

O grande drama para conseguirmos fazer o nosso trabalho era o de ter os 23 de cada equipa antes do início do jogo.

Pura e simplesmente, não existiam em lado algum, o que contraria todas as regras internacionais, a começar pelas da World Rugby.

Tínhamos então de chegar duas horas antes do jogo, ir chatear esses gigantes do nosso râguebi, como o Murteira, o Nuno Salvador, os Pedros, do CDUL e da Académica, o Mota e muitos outros, e eu lá ficava a copiar aquilo “à pata”, como se diz no calão jornalístico, enquanto o nosso Sérgio, feliz da vida, “fraternizava” com a sua simpatia natural.

Estava então eu neste labor intensivo, no Sábado à tarde referido, na cabine do Técnico, onde os 23 estavam afixados num quadro na entrada interior do balneário, quando levo uma murraça intensa algures entre a D2 e a D4.

Como já tinha levado outras em trabalho, em vários sítios do mundo, nem sequer parei o que estava a fazer, quanto mais virar-me.

E eis que levo outra, mais violenta, na mesma região anatómica, sendo que, no meu caso, uma fraca figura, causou dano para duas semanas.

Continuei o labor, embora o nome do formação, na altura um jovem em começo de relevância desportiva, tenha ficado um bocado torto no bloco de notas.

É então que da catacumba vem um jovem muito simpático, creio que era o Arrojado, e diz “Ó Pedro, mas o que é que estás a fazer, pá, ele é da 4ª Parte, caraças”.

Quem me estava a aviar os carinhos era o presidente do clube, Pedro Lucas, que não sabia o que era a 4ª Parte, que os seus jogadores viam e liam religiosamente, estando quase em êxtase por finalmente irmos fotografar e escrever sobre eles, e que pensava que eu era da Agronomia e estava a espiar os 23.

É um pouco isto a comunicação do râguebi português.

Passo então a partilhar o que chamo “o síndroma do canino com a pulga na cauda”, isto é o fecho em círculo frenético e permanente da comunicação do râguebi nacional.

Ou seja, o Velha Guarda Lucas deu-me carinho porque não lhe passava pela cabeça que um jornalista estivesse a trabalhar em râguebi nacional, mas só o fez porque quem trabalha em comunicação do râguebi nacional não tem a mínima ideia do que está a fazer, violando diariamente todos os princípios profissionais e éticos primários.

Vamos ver se consigo explicar os fundamentais.

Aliás, escrevo neste trecho sem qualquer ironia, o que partilho de seguida é um manual básico, reforço o básico, estratégico e de boas práticas do qual prescindo da propriedade intelectual e que pode ser usado livremente pelos agentes do nosso râguebi do modo que melhor acharem.

Antes de tudo o mais, e acima de tudo o mais, os comunicadores da federação e dos clubes, novamente com escassa excepção, não sabem ou não querem saber para quem estão a comunicar.

Os referidos comunicadores deviam saber que não trabalham para partilhar informação com os grupos sociológicos que mencionei neste texto, com uma excepção.

Estes grupos, como referi, têm os seus grupos de whatsapp e sabem de tudo, mas mesmo tudo, antes de todos os outros.

Por outro lado, dado o seu escasso número, umas centenas no total, não têm massa crítica nem interesse em serem alvo de comunicação, a não ser quando esta envolve fotos gratuitas de eles próprios.

Os comunicadores, da federação e dos clubes, devem trabalhar para o grupo Parental Desqualificado, já aqui descrito, para o grupo Estrelinha, jogadores de formação sem pais, tios, irmãos e primos activos no râguebi, para o grupo Potencial Adepto, isto é alguém que por alguma razão possa vir a ter interesse no râguebi, para o grupo Media Pro, todos os órgãos de informação de legado e todas as plataformas digitais, e para o grupo Querido Mecenas, que designa agentes individuais e colectivos empresariais, que não sejam pais de jogadores no activo, que possam vir a ter interesse em financiar as actividades da federação ou dos clubes.

Não preciso de escrever que é através destes grupos que se vai atingir, primeiro, a população, ou seja ganhar massa crítica, e, depois, o poder político e económico, que são fundamentais para o râguebi crescer.

Foi isso que fizeram na última década, para nomear apenas desportos minoritários, o surf, o padel e a canoagem.

A comunicação da federação e dos clubes destina-se primariamente aos grupos sociológicos referidos porque o Objectivo Estratégico Nuclear (OEN) é sempre o de todos os dias ganhar massa crítica, por outras palavras cativar públicos constantes para o râguebi, que cativados trarão atletas, adeptos e financiamento.

Chama-se a isto, segundo a teoria contemporânea, efeito de rede.

Para atingir o OEN, todos os dias, e em cada dia um bocadinho, é preciso que todos os agentes de comunicação sejam profissionais, isto é que pelo menos saibam para quem estão a trabalhar e que conteúdos devem criar para quem estão a trabalhar.

Atingir o OEN implica trabalho árduo e contínuo, que assenta em informar, comunicar e seduzir, que são três operações totalmente distintas (3OTD).

Partilho então o que o departamento de comunicação da federação e os instáveis departamentos de comunicação dos clubes têm obrigatoriamente de fazer para realizar as 3OTD, atingindo assim o OEN.

O departamento da federação não deve ser, como é há décadas, um órgão de informação, isto é uma entidade que divulga informação básica, mas deve antes entender estrategicamente e executar duas funções.

A primeira é a de divulgar informação institucional que não interessa aos media, que é muito pouca, na verdade.

A segunda é a de ser entidade de lóbi.

O mesmo devem ser os clubes, nas suas dimensões desportiva e regional.

O departamento da federação e dos clubes devem ser, e nunca foram, entidades de lóbi, isto é, entidades que cativam os existentes agentes de comunicação para gerarem conteúdos sobre o râguebi nacional, e que se dediquem a criar oportunidades de activação para todos os outros agentes mencionados, especialmente do grupo Querido Mecenas.

A este propósito, não resisto a contar uma história de elevado dramatismo relacionada com o anterior departamento de comunicação da federação, quando estava ao serviço da 4ª Parte.

Como as profissionais daquele, uma jovem e a sua auxiliar veterana, nunca foram “briefadas” sobre qual era o seu OEN, pensavam, ardorosamente, que deviam ser o órgão de comunicação exclusivo do râguebi nacional.

Ainda tentei explicar uma vez, mas a teoria sociológica clássica, de Weber a Habermas, mostra-nos que quanto maior o gueto, maior a arrogância.

As duas profissionais tinham especial gosto em ser as primeiras a publicar nas suas plataformas digitais tudo o que se relacionava com o râguebi nacional.

Para a 4ª Parte ser o primeiro era irrelevante, mas, confesso, tanto eu como o Sérgio também gostamos de nos divertir.

Então, usando uns velhos truques do ofício, montávamos o conteúdo imagético e textual de modo que publicássemos sempre primeiro.

Lembro-me da jovem e da veterana num canto do Aeroporto de Lisboa, a gritarem “mas como é que eles fazem isto?”, ao verem o nosso “post” sobre a partida dos Lobos SUB 20 ser honrosamente saudado com um “gosto” da Mãe Catarina, ali a despedir-se do seu Jay, enquanto o “FB” da federação continuava sem nada publicado.

Um ultraje.

Voltando ao que interessa, é extremamente simples, no caso da federação e dos clubes, atingir o OEN, e realizar as 3OTD, mas dá muito trabalho, e exige um esforço de sapa invisível contínuo que pode demorar meses, ou, quando as coisas correm mal, anos.

A federação e os clubes têm de entender os dois mecanismos fundamentais de qualquer entidade que faz informação, comunicação e sedução de modo profissional.

Procuramos continuamente activos nossos, isto é, dentro dos nossos recursos humanos e actividades, que podem ser transformados em conteúdos de informação, comunicação e sedução.

Depois, vamos à procura de quem se interessa pelos activos, sejam “media”, sejam departamentos de comunicação de empresas.

Antes do mais, é preciso entender os “media” de legado e digitais para proceder a recolha.

Nenhum jornalista desportivo, de legado ou digital, quer escrever sobre râguebi, com excepção do David Andrade, um enorme decano, e do incansável Miguel Morgado.

Não por antagonismo ou repulsa, mas por duas razões.

Primeiro, como não está no imaginário nacional, veja caro leitor como tudo se liga, não sabe nada do desporto.

Segundo, porque escrever sobre râguebi não lhe faz carreira.

Os jornalistas querem escrever sobre futebol, claro, e se não tiverem lugar, sobre futsal, atletismo ou andebol.

Assim sendo, o trabalho de recolha, que é só inicial, é árduo.

Tem de se ir bater a todas as portas e saber quem são os estagiários.

É que, como estão em início de carreira, são os únicos que podem ser seduzidos por ganharem conhecimento numa modalidade de que ninguém sabe nada.

Feita a recolha, isto é identificados os estagiários, tem de se os chamar para apresentar o râguebi nacional.

É aqui que o “tem de se saber fazer” tem extrema importância.

Esqueçam por favor o “powerpoint” de 189 slides na sede, narrado pelo senhor presidente.

Chama-se os estagiários ao CAR ou ao campo, no caso dos clubes.

Apresenta-se um “catering” com classe, mas mesmo de classe, não o do pastel de nata e café.

Já preparados por nós sobre o conteúdo da mensagem que devem partilhar, em sessões de horas que podem ir de duas a dez, os peritos e os heróis, o Diogo Mateus, o Patrice Lagisquet, o capitão Appleton, ou outros dos seus pares, e tantos existem, no caso da federação, e a outra tipologia semelhante de pares, mas à devida proporção, no caso dos clubes, onde estarão o nosso Foro, o nosso Dinis, o nosso Sousa, e tantos outros, dividem entre si o râguebi nacional em módulos, e cada um apresenta a sua parte.

No fim das sessões, espalha-se os jornalistas pelos nossos heróis, e deixa-se que falem livremente, em rodagem por todos, durante uma hora.

No término, dá-se uma camisola Lobo ou uma camisola do clube e um “pdf” a cada estagiário com o seguinte, pelo menos.

No caso da federação-

Contactos telefónicos de todos os treinadores da selecção e dos clubes, contactos telefónicos de todos os capitães, informações essenciais da federação e de todos os clubes, incluindo plantéis, estrutura e calendário de todas as competições, dados quantitativos, que os nossos queridos amigos Zé Paixão e Paulo Duarte irão recolher, das últimas dez épocas, incluindo Lobos, equipas e formação.

No caso do clube-

O mesmo, adaptado à sua realidade.

A este propósito, deve-se consultar, como exemplo, o “manual de media” do Seis Nações, disponível na respectiva plataforma digital.

Dos dez estagiários que vão aparecer, cinco nunca irão atender o telefone quando começarmos a estabelecer contacto.

Mas ficamos com os outros cinco.

E começa aqui a segunda etapa, de um processo que novamente leva de meses a anos.

Todas as semanas ligamos para os cinco magníficos.

Quando eu escrevo ligamos, é ligar directamente, e não enviar absurdos comunicados de imprensa que ninguém nas redacções lê, ou publicar conteúdos de uma linha nas plataformas digitais, com álbuns de 130 fotografias.

“Sabes que no sábado há uma joga fundamental?”, “Sabes que o jogador X é capaz de ir atingir os 1000 pontos?”, “Sabes que no clube Z apareceu um puto que é uma malha do caneco?”, “Sabes que o Ascarate anda a partir aquilo tudo?”, “Sabes que o Torgal e o puto Vareiro estão umas máquinas?”

Sabes isto, sabes aquilo.

O lóbi é apenas a tarefa de despertar o jornalista para aquilo que se chama, no calão, “uma história”, isto é uma narrativa factual que ele considere de interesse para o leitor.

A princípio, dá um trabalhão, tem de se servir de ama seca ao jornalista no campo e leva horas.

Mas, se tudo correr bem, os cinco iniciados começarão a perceber a “coisa”, isto é o râguebi nacional, e a estabelecer relações de confiança com os respectivos agentes.

Afinal temos agentes de uma simpatia reservada, pouco receptivos à conversa, como é o caso do treinador Frederico Sousa, mas também tantos outros de uma simpatia e conhecimento inesgotáveis como são, só para citar alguns no activo, o Murteira, o Nuno Aguiar, o Miguel Jonet, o Miguel Leal, o Coutinho, o Zô Gonzaga, o Artur Freitas, o João Diogo, o “Bico” Bettencourt, o Samuel Vieira Mendes, o João Uva, e o João Mirra, fora do tempo de jogo, porque durante este transforma-se num ser indescritível resultante da fusão do Mickey Rourke na fase decadente com um barbudo do Ultimate Fighting Championship.

No entanto, escrevendo sobre o João Mirra, devo partilhar com aqueles que pensam a partir de impressões breves, que foi sempre o treinador, juntamente com o Diogo Mateus, quando estava nos Lobos Sevens, e o Lois Pissarra, nos Lobos Sub 20, que melhor se preparou e preparou a sua equipa para o trabalho da 4ª Parte.

A estes, devo acrescentar que para comunicação pura, isto é transmissão de mensagem cuidadosamente lapidada que beneficie o interesse da sua estrutura, ninguém melhor que o Aguilar.

As histórias começam a aparecer, e os media são invejosos e vivem em círculo fechado, quando se descobre um filão, todos querem uma pepita.

O mesmo manual é aplicável à relação com os departamentos de comunicação das empresas e das entidades, com a única diferença de que não fazemos contacto para informar, mas sim para seduzir e mostrar como aqueles podem comunicar.

O que o departamento de comunicação da empresa e da entidade procuram descobrir são plataformas e superfícies, digitais, físicas e humanas, que de modo exponencial activem a sua marca e mensagem junto da população.

E, pronto, mais uma vez se tudo correr bem, às tantas só se fala de râguebi.

E os tambores começam a tocar.

E os políticos e empresários começam a cheirar.

Acabei de partilhar a cartilha da comunicação para atingir o OEN.

Garantir a sobrevivência, ocupar o espaço mediático, passar a mensagem.

Não fui eu que escrevi este manual, é a EDP, o Governo e o Santander que o escrevem todos os dias, há mais de um século.

Tendo acabado de partilhar o básico sobre o que deve ser a comunicação da federação e dos clubes, vou apenas escrever, para poupar o leitor, sobre mais dois temas vitais, de tantos que existem nesta linha de trabalho fundamental.

O primeiro é o de que os activos mediáticos do râguebi não são apenas os activos da competição ou da formação, e as activações de informação, comunicação e sedução não são apenas as relacionadas com jogos e torneios, no caso da formação.

Nós temos, como irei mostrar de seguida, múltiplos activos de enorme valor informativo e comunicacional de outra natureza.

Vou dar exemplos extremamente simples, primeiro relacionados com os activos.

Temos uma mulher árbitra e funcionária de um serviço de segurança, a Maria Heitor.

O “Público”, a “CMTV” e a “Executiva.pt” davam tudo para escrever esta história.

Temos dois profissionais, o José Paixão e o José Maria Lacerda de Mello, que aprenderam a ser analistas por si próprios, no caso do primeiro em vídeo, agora encetando o trabalho em GPS “big data”, para o qual teve de aprender francês, devido à origem do sistema usado pelos Lobos.

“A Bola”, a “Sport TV”, o “Expresso” e a “Computerworld” matam por esta história, porque querem-na fazer com os analistas do futebol, mas não conseguem.

Temos um brilhante abertura, o Jorginho Abecassis, que fez o seu internato nas urgências do Santa Maria, e um não menos brilhante centro, o Vasco Ribeiro, que estuda no Técnico.

A “SIC”, o “Observador”, a “CNN Portugal” e a “TVI” têm todo o interesse.

Finalmente, temos um activo crucial, que são os jogadores e respectivos responsáveis parentais.

As dezenas de milhares de euros que a federação gasta anualmente no programa “Rugby nas Escolas”, destinado a captar praticantes, é totalmente inútil, como todos sabemos.

O que é extremamente útil é a comunicação da federação criar dois ou três “teasers” em vídeo de 20 a 35 segundos, mostrando o esplendor do nosso desporto, desde que nestes nunca surjam os nossos heróis de 2007, porque como declarou o capitão Appleton ao “The Rugby Journal”, na edição de Março de 2023, pareciam “caveman”.

De seguida, usando as bases de dados dos clubes, partilham-se por whatsapp os “teasers” pelos jogadores e pelos pais, para que estes os distribuam pela família, e pelos colegas de trabalho e de escola.

Em troca-se, garante-se a cada pai um desconto na mensalidade por cada novo praticante trazido por aquele, começando nos 40 por cento, no primeiro mês, e indo descendo mensalmente até estabilizar nos 10 por cento durante uma época.

Não esqueçamos que 90 por cento dos praticantes entram por indicação familiar, ia escrever obrigação, ou por “mano, bora lá”, dito de colega para colega no whatsapp às 3 da manhã.

Ia atrever-me a acrescentar aos activos o “15” Manuel Marta, por ser o influenciador de topo no Instagram PT, na faixa feminina 18–23 anos de enorme exposição nocturna, o que daria cinco minutos geniais no programa da Cristina Ferreira, mas não o faço porque o Senhor Presidente André Cunha, da infinita linhagem Cunha, e especialmente o Tirano Pai Marta ficariam ofendidos.

Passo agora a partilhar mais exemplos extremamente simples, desta vez relacionados com activações.

Há uns tempos, os referidos nossos heróis de 2007 foram convidados para um jantar formal pelo Senhor Presidente Amado da Silva.

Ou seja, para um jantar com o Senhor Presidente referido, os senhores presidentes, a RugbyConfra e uns senadores criteriosamente seleccionados.

Teria sido muito mais útil ao nosso râguebi que os nossos heróis tivessem sido espalhados durante uma semana pelas equipas de SUB 12 em todo o território, liderando o treino durante o período referido.

Estas equipas teriam o nome do seu herói, e disputariam um torneio na Bairrada durante um fim de semana.

Para o torneio, seriam convidados entidades, empresas e famílias.

Os tempos de jogos seriam alternados com pequenas conversas com os nossos heróis, com participação de todos, com temas como “esforço”, “sacrifício”, “liderança”, “método” e tantos outros, que os nossos heróis conhecem como poucos.

Saímos dali todos com centenas de decisores, adultos e jovens conquistados para o râguebi.

Conheço pelo menos dez dos nossos heróis de 2007 que alinhavam nisto sem pensar duas vezes.

Aliás, acrescento, irão alinhar.

Porque, como é óbvio, o Senhor Presidente da FPR já deu ordem aos seus serviços, especialmente à Rugby TV, para que todos os jogos dos Lobos no Mundial sejam transmitidos no Jamor.

Falo, claro, de um écran gigante, e de umas tendinhas de conforto, com distribuição controlada.

Mas escrevo também sobre uma ligação directa ao balneário Lobo, antes do jogo, com umas palavrinhas do capitão Appleton, e, depois, de um grande directo do Jamor, para os rapazes verem que estamos todos com eles.

Mas escrevo, acima de tudo, sobre um torneio nacional SUB 8/10/12, em todos os dias em que haja jogo Lobos, com os nossos de 2007 a treinar as equipas, no modelo que já aqui apresentei.

A alegria que vou ter em ver o Senhor Presidente, de microfone na mão, a gritar “Vamos com tudo, malta”.

E o nosso Patrice a responder “bien sur, bien sur, monsieur le presidente”.

Como escrevi, de certeza que a FPR tem isto já engatilhado.

Do mesmo modo, Senadores, Companheiros de Balneário, Teóricos Que Temos, Parental Qualificado e Manos e Manas, esquecem, por tradição e arrogância, o que para felicidade de todos nós não acontece com o grupo Sábios, que existem os grupos Parental Desqualificado, Potencial Adepto, Media Pro, Estrelinha e Querido Mecenas.

É extremamente engraçado que tradicional e mentalmente esqueçam estes cinco últimos grupos, porque são eles que pagam a competição e que são indispensáveis para a sobrevivência económica e desportiva do nosso desporto.

Não seria então de a federação e os clubes pegarem em alguns membros do grupo Sábios, que têm autoridade, rigor e bom senso, e os usar como activos chave em momentos de cativação dos cinco grupos referidos.

Passando a materializar.

Há uma enorme diferença entre um Parental Desqualificado, um Potencial Adepto, um Media Pro, um Estrelinha ou um Querido Mecenas ir sozinho ver um torneio de formação ou um jogo de competição, e ir com uma das pessoas mais bondosas e generosas que conheço, o Cajó Reis, que será um guia de confiança para tudo o que se passa no torneio ou no jogo, explicando e esclarecendo dúvidas, enquadrando e acompanhando, desvalorizando sabiamente os gritos histéricos dos pais, no caso dos torneios, com o clássico “Mata, Mata” sempre nos lábios, e os palavrões dos adeptos, no caso dos jogos, com o não menos clássico “és sempre o mesmo, fi#$% da p#$#$%”.

O que procuramos é obviamente activação e sedução.

Ou seja, que os nossos convidados se sintam em casa, sejam aconchegados, percebam o espírito e as regras, e saiam com vontade de voltar.

Nunca podemos esquecer que 70 por cento dos nossos, e 99,9 por cento dos portugueses não nasceram com uma oval no berço e não cresceram a ouvir o pai dizer à mesa com a voz tocada pelas doze imperiais como é que o Storti fez aquele “avant” “na linha dos cinco metros”, já que “pá, era um ensaio lindo, pá.”.

Todos os clubes têm o seu Cajó, com excepção do Direito e do Técnico, e mesmo assim por implacáveis regras internas e não por natureza de alguns dos seus membros.

Vamos lá então pedir-lhes que eles nos ajudem, porque é o que os Sábios fizeram toda a vida por nós.

Termino então esta secção com o segundo tema que referi.

Já que não sabem fazer bem, pelos menos os departamentos de comunicação da federação e dos clubes, com algumas excepções, têm de tentar fazer bem o que fazem e serem menos preguiçosos.

É absolutamente inaceitável, no caso da federação, que os comunicados de imprensa mostrem que os profissionais não dominam a estrutura de uma narrativa curta, que cometam erros gramaticais, lexicais e de sintaxe, que um projecto como a Rugby TV, que poderia ser excelente e tem enorme potencial, aqui estou eu a saudar o Senhor Presidente e os seus executivos, seja arruinado por falta de formação dos comentadores e por inenarrável incapacidade técnica, e, no caso da federação e dos clubes, que os conteúdos das plataformas digitais sejam de uma vulgaridade extrema, e que todos os dias sejam espaço para falhas graves de informação.

Como é que decisores e profissionais não entendem que com cada um dos referidos e todos os seus actos estão a alienar e não a cativar pais, financiadores e potenciais jogadores, é algo que me escapa.

Passo a materializar, de novo.

Por favor, Rugby TV não me estraguem a visualização de um jogo fundamental, o Agronomia-Belenenses, realizado na Tapada a 22 de Abril de 2023, com um indivíduo não identificado que é ouvido por todos a dizer quatro ou cinco vezes “ainda se houvesse imperiais”, ao mesmo tempo que o puto Rebelo de Andrade, o mais novo, andava doido para dar a volta ao jogo.

Por favor, não escrevam mais “já focados no próximo jogo” quando os Lobos ou a equipa perdem.

No mesmo quadrante, por favor parem de escrever nas plataformas digitais da federação e dos clubes “vamos com tudo” quando anunciam os jogos.

É que nem já o Manuel de Mascarenhas Gaivão, que tem um álbum encadernado com todas as postagens da federação, e todos os seus comentários, aguenta.

Por favor, expliquem-me quais os critérios de escolha do actual seleccionador para eleger um Lobo durante um ciclo de quatro anos.

Por favor, escrevam sobre quais são os critérios para existir um contingente de jogadores de elite.

Por favor, informem-me das razões que levam a que o Tomás Sequeira, carinhosamente alcunhado pela 4ª Parte como Sequeira de Aço, o melhor jogador do campeonato nacional nas duas últimas épocas, não seja Lobo.

Não, não, não me venham com a história de que ele não quer, que essa todos conhecemos e já tem dez anos.

Informem-me se ele foi contactado pela federação no início do ciclo que conduziu à nossa presença no Mundial e o que resultou dessa conversa.

Por favor, informem-me em detalhe, e não em rubricas contabilísticas generalistas, como as que formam o documento da federação “Plano de Atividades e Orçamento 2022”, já aqui citado, em que estruturas e actividades é aplicado o total anual de gastos de 2 milhões, 392 mil e 475 mil euros, dos quais 271 mil e 706 são dedicados a recursos humanos.

Aproveitando o documento referido, que sem dúvida alguma devia ser publicamente dissecado em detalhe, informem-me também porque é que do montante designado “total de gastos”, apontado no parágrafo anterior, cabe à rúbrica classificada como “selecções nacionais e alto rendimento” 1 milhão 357 mil e 472 euros, dos quais 311 mil e 72 euros vão para recursos humanos.

Por favor, informem-me por que razão subitamente no jogo 14 o jogador X não joga, se foi sempre titular desde Setembro.

Informem-me se é por lesão, e sendo o caso que lesão, ou se é por estudo ou trabalho.

Por favor, escrevam porque é que esta época não jogam jogadores fantásticos do CRE, do CRAV, do Montemor, dos “Pretos” e por onde andam tantos outros, como o nosso Mascarenhas, o nosso Hasse e o nosso Zé Conde.

Já agora, por favor, informem-me regularmente dos feitos do Pedro Bettencourt, do Zé Lima, do Puto Souto, e de todos os Lobos a jogar em França.

Por favor, informem-me das razões que levaram à escolha no início da época de um novo treinador do Direito, da Agronomia e do Cascais, entre tantos outros, incluindo aquele maduro “Springbook” que trabalha por “Zoom” para um clube lisboeta do “Honra”.

Por favor, coloquem semanalmente nas vossas plataformas os vídeos e postagens da conta do Instagram “Memes do Cabé”.

É extremamente divertida, e termos a capacidade de rirmos de nós próprios revela segurança e maturidade.

Por favor, não usem nas vossas plataformas fotografias gratuitas, e não publiquem mais de 25 por postagem.

É de uma enorme generosidade e honra o que os “fotógrafos do râguebi” fazem, mas, ao trabalharem gratuitamente, afastam centenas de profissionais de fotografia e vídeo com contactos em todos os media do país.

Por favor, peguem na “#$#”$da do vosso telemóvel e façam um vídeo de 10 minutos da vossa equipa no balneário antes do jogo.

Por favor, não o coloquem integralmente na plataforma, como fazem com todos os que já fizeram, já que é tão mal filmado que só se vê o Granate ou o JP Cabaço, dada a singularidade dos seus perímetros anatómicos, porque a conta da federação e do clube não são a vossa conta privada.

Entreguem o vídeo a um profissional de edição, sentem-se com ele, aprendam o que é estrutura narrativa, e fiquem com um conteúdo vibrante de 30 segundos.

Por favor, não usem o torneio das seis nações para fazer na Sport TV comentários arrogantes, egocêntricos e misóginos, que vão ao ponto de enunciar que as regras da World Rugby estão erradas, e percebam que ainda não tiveram um processo judicial porque ninguém a não sermos nós, vê o Seis Nações na Sport TV.

Poderia continuar por mais 200 páginas a dar outros exemplos dos últimos dois anos, para não recuar mais, e de todos os dias de agora, mas não é necessário.

Por favor, peçam ao David Andrade para vos dar uma formação em jornalismo, a uma craque do CENJOR para vos dar uma segunda formação em comunicação, e a uma perita da Nova ou do ISEG para vos ensinar marketing digital.

Encerro por aqui esta secção.

Creio que todos os bondosos e pacientes leitores concordam que uma das nossas melhores armas, a informação e comunicação do nosso râguebi, é em todos os momentos um míssil nuclear Putinosvsky apontado para nós.

4) O râguebi português não é competitivo

Se pelo que escrevi até aqui irei de certeza levar mais umas murraças na D2, que em trinta e cinco anos de trabalho foi muitas vezes acarinhada, e que um dia terá de ser vista pelo Veterano Pipas, embora tenha a certeza de que muitos que me concedem a graça de ler este escrito saibam que só o faço por amar o nosso râguebi, e encontrem factualidade e justeza em tudo o que escrevo, muitas mais irei levar no fim desta secção.

Começando pelo ensaio decisivo na bola de jogo, o meu ponto central de argumento nesta secção é o de que a base exclusiva e tradicional da competição, o clube, não tem qualidade para o ser.

Mas, antes de perfurarmos até à linha de ensaio, através do canal dois, atingindo um índice de velocidade superior ao do “Xico” Costa Campos, do Rodrigo Marta, do CP ou do “15” Lobo minorca, com o David Diniz, o “Chessy” e o Rafa Simões esmagados no chão pelos nossos “dummies”, vamos a outros elementos cruciais que matam a nossa competição.

Vamos então até à última Sexta-Feira Santa, ao Estádio Universitário de Lisboa, para um Agronomia — CDUL, um jogo entre o primeiro e o quinto classificado à data deste escrito.

Escrito de outro modo, um jogo de topo, muito importante para as duas equipas.

O CDUL saca pela primeira vez no jogo uma penalidade, não tendo ainda até este momento pontuado, e o Jorginho, esse virtuoso, pede postes, apesar de estar a 40 metros.

O suplente não encontra o pino do Jorginho.

O banco de suplentes, em desordem, não encontra o pino do Jorginho.

Um dos treinadores do CDUL, um argentino a quem a emoção transforma num colérico e revoltado no tempo de jogo de todos os jogos, grita pelo pino do Jorginho.

O nosso Gonçalo Foro, honra lhe seja feita, está impassível e silencioso, como sempre.

O segundo treinador-adjunto do CDUL olha desesperado para o perímetro.

Após intensa exploração, descobre o pino do Jorginho nas mãos de uma criança de quatro anos, que estava a brincar com ele na vala de areia do estádio, a cinco metros do banco de suplentes.

Enternecedor, sem dúvida, todos nós presentes sorrimos encantadoramente com o menino loirinho, mas um sinal inequívoco de que tudo isto é uma brincadeira e uma falta de respeito colectiva pelos jogadores e pelos técnicos.

Continuando a fazer o relato deste jogo, pedindo desde já desculpa ao Rosmaninho, na segunda parte, o mais novo dos Cortes no activo na Agroo, arranca pela sua ponta, faz, nos 40 metros do adversário, um pontapé táctico rasteiro, e depois de o fazer, quando ia fugir pelo canal 3, recebe uma “mocada” violenta do “bife” do CDUL.

O Cortes colheita recente fica estendido no relvado, e acabará por ser evacuado de ambulância, com cabeça e pescoço imobilizados.

No momento da agressão, na outra ponta, o Cortes Vintage, o António Maria Monteiro, um dos jogadores portugueses que eu mais admiro, pela sua garra e entrega, arranca num “sprint” que só acaba quando espeta duas solhas de mão fechada no “bife”.

A árbitra dá cartão vermelho ao Cortes Vintage e ao bife.

Nas bancadas, os adeptos, e especialmente as adeptas, da Agroo e do CDUL, todas estas de idade adulta, insultam-se violentamente, insultam a árbitra, insultam o Cortes, insultam o bife.

Começa aqui, como começa em centenas de outros jogos da “Honra” que vi e vejo todas as semanas, ou seja iguais ao que recorto podia invocar tantos outros exemplos, o trilho viciado que dura há décadas e que destrói a competitividade do râguebi português.

Vamos então decompor o trilho em coordenadas cuidadosamente referenciadas, ou seja, em dimensões granulares, algumas das quais totalmente invisíveis, mas absolutamente decisivas.

Se o público não leva a sério o jogo, a competição não é séria.

Há em todos os jogos, dos torneios SUB-8 ao “Honra”, uma permanente desresponsabilização da maioria, mas não totalidade, do público, masculino e feminino, que o leva a continuamente agredir oralmente, e por vezes fisicamente, as equipas técnicas, os jogadores e os adeptos adversários, bem como, claro, as equipas de arbitragem.

Não falando claro das épicas entradas em campo de Senadores e Companheiros de Balneário.

Esta desresponsabilização tem como causas o facto de a maioria, novamente não a totalidade, pertencer a alguns dos grupos sociológicos de privilégio que já foram nomeados neste texto, a esta maioria achar que o recinto de jogo está excluído do território nacional, não se aplicando o Estado de Direito, sendo assim um santuário para excessos, e para o consumo exagerado de álcool.

Este estado gera duas consequências, e seria muito importante que os responsáveis da federação e dos clubes chegassem horas antes dos jogos, ficassem no recinto horas depois do jogo, e observassem com concentração a bancada e não o campo.

A maioria dos jogos e torneios tem de 100 a 300 espectadores, com excepção dos jogos decisivos, que podem chegar aos 800 espectadores, e das finais, que atraem mil a mil e quinhentos espectadores, num dia de clima ameno.

95 por cento destes espectadores pertence aos grupos sociológicos com privilégio no râguebi português que já referi.

Os espectadores que nos interessam, Parental Desqualificado, Potencial Adepto, Estrelinha, Media Pro e Querido Mecenas, assistem uma vez ao torneio ou ao jogo e raramente voltam.

Assim, o nosso potencial mediático, financeiro e de captação de atletas, que depende em larga escala da qualidade dos jogos e do conforto da bancada, é anulado à partida.

A mim, o que me fascina é que os responsáveis da federação e dos clubes não percebam uma equação tão simples.

E não percebam também, embora eu desconfie que fingem não perceber, que a condição estrutural sobre a qual escrevo pode ser mudada em uma semana.

É, na verdade, terrivelmente simples.

Os jogos têm de ser pagos a sério, e não simbolicamente, como acontece até agora.

O que eu não entendo, como assisti demasiadas vezes, é como um “maduro” que chega de BMW Série 5 se atreve a discutir cinco euros para ter o privilégio de ver um espectáculo desportivo.

O consumo de álcool tem de ser proibido a menores, e os irmãos, pais e tios adultos que o comprem para menores têm de ser proibidos de entrar no recinto durante o resto da época.

Os adultos têm de receber um cartão para consumo de álcool, com limite de cinco “jolas” por jogo.

A federação terá de ter um funcionário em cada jogo, responsável pela elaboração de um relatório de observação da bancada.

A partir de critérios definidos e previamente comunicados aos clubes, estes perdem pontos nas suas competições se as bancadas agredirem oralmente os agentes que referi.

Violento, sem dúvida.

Mas, se levamos o nosso râguebi a sério, temos de ter sempre por meta o objectivo fundamental.

O que nós queremos é ter em carteira um activo, o jogo e a bancada em dia de jogo, onde as pessoas se sintam bem e vibrem com os nossos heróis.

Nesta época, e nas anteriores, o que nós temos é um torneio, um jogo e uma bancada, onde todos, inclusive os que amamos o râguebi, não queremos ver e estar.

Assim, o Parental Desqualificado, onde manda sempre a mãe na hora das decisões, não vai inscrever a menina ou o menino num desporto onde se irá sentir mal quando for a campo.

O Querido Mecenas não vai colocar uma faixa de activação da sua marca num recinto de má fama.

Neste ponto, poderão opor os especialistas em desporto. Então e o futebol, pá?

É análise à qual nem vou dedicar linhas.

Primeiro, porque há uma diferença de escala do tamanho do Pacífico.

Segundo, porque o futebol é hoje um negócio global assente na transmissão dos jogos em plataformas e na mercadoria dos clubes.

Não assenta nos “Ultras” e nos adeptos na bancada.

Assim, não vamos nunca esquecer que o valor competitivo do nosso râguebi começa no campo e na bancada.

Trabalhemos agora sobre os nossos heróis, os nossos treinadores e quadros técnicos, e os nossos jogadores.

Comecemos pelos treinadores e outros quadros técnicos, que felizmente é um dos nossos enormes activos, incluindo, tirando os que já referi, do professor Carvoeira ao sempre amargurado, mas excelente profissional, João Luís Pinto, passando pelo Henrique Garcia, pelo Alex Lima, pelo José Carvalho, pelo Gonçalo Pereira e pelo Professor Moura, de quem falarei na última secção deste texto.

Não nos esqueçamos de incluir todos aqueles, de Arcos de Valdevez a Loulé, de Elvas a Cascais, que dão graciosamente, e sem formação profissional na área, o seu contributo de guiamento e de treinos nos escalões de formação e pré-competição.

Aqui não posso deixar de mencionar o meu gigantesco amigo, de alma, não de perímetro anatómico, Miguel Rebelo Pinto.

São os agentes, dos dois grupos que refiro, que mais admiro no nosso râguebi.

Se os treinadores e equipa técnica desrespeitam as mais elementares regras de uma competição séria, e durante um jogo violam a ética e a responsabilidade dadas pelo seu papel funcional, esta vira um circo.

A maioria, mas não a totalidade, dos treinadores e outros elementos técnicos age assim nos torneios e nos jogos por duas razões.

Não sofre qualquer sanção disciplinar interna, ao nível do clube, ou federativa pelos seus actos, a não ser em casos extremos.

Não tem uma carreira, validada legal e administrativamente.

É uma das já referidas dimensões invisíveis, mas decisivas, do nosso râguebi.

Por carreira, refiro o documento legal e administrativo comum nas carreiras desportivas, e em todas as profissionais, que estabelece, entre outros aspectos fundamentais, as funções e competências, os deveres, e a remuneração, do tecto mínimo à progressão por antiguidade e mérito.

Dirão alguns, mas o râguebi é um desporto amador.

Escrevo eu, primeiro, deixa de ser quando o orçamento do clube são 300 mil euros.

Deixa de ser, depois, quando outros desportos nacionais ditos amadores com dimensão pouco maior do que o nosso, têm carreira definida.

Enquanto os nossos treinadores e outros quadros técnicos não tiverem uma carreira, isto é, enquanto não se sentirem membros de uma classe profissional, e não virem um futuro a médio e longo prazo para o seu trabalho, continuarão a contribuir para o desrespeito do nosso râguebi.

Eles sabem que a qualquer momento podem ser dispensados, e que a qualquer momento poderão pensar “chega” e irem-se embora.

Acontece todas as épocas.

Não serão a federação e os nossos dirigentes, com algumas excepções, dentro da federação e em alguns clubes, que irão levantar a referida carreira.

Terão de ser os treinadores, assessorados pelo Doutor Pedro Fragoso Mendes, na frente legal, e pelo Tomás Morais e pelo Aguilar Filho, na frente profissional, a fazê-lo.

Temos neste momento, um número suficiente de treinadores com capacidade intelectual, prestígio e experiência profissional e do mundo para executar a tarefa.

O facto de adiarem a sua execução será analisada na última secção deste texto.

Se, com um estatuto definido e publicado, os treinadores e as outras tipologias técnicas continuarem a agir como agem nos jogos, especialmente interferindo em tempo real no trabalho da arbitragem, devem ser expulsos do recinto de jogo em tempo real e sancionados de modo que doa, pela federação, mas também pelo respectivo clube.

Não há outra solução e não esqueçamos que só há dois modos de mudar uma realidade, qualquer que seja o contexto profissional que estejamos a observar.

A montante, forma-se com pedagogia.

A jusante, pune-se.

Escrevamos agora sobre o mais precioso dos nossos activos, os nossos, escrevo sem qualquer ironia, maiores heróis, os jogadores, de SUB 6 a seniores.

Se os jogadores não se comportam como profissionais de uma competição prestigiada, tanto num torneio de formação como num jogo do “Honra”, estas viram um calendário de jogos de putos e de solteiros e “companheirizados”, como agora se diz, até nas nossas famílias de tradição raguebista.

Abordando as causas dos Manos, Manas e Estrelinhas contribuírem para a falta de competitividade do nosso râguebi, temos de começar por fazer uma separação sociológica rudimentar.

Um importante número de Manos, Manas e Estrelinhas continuará a ter um comportamento errado dentro e fora de campo durante o seu percurso raguebista, de SUB 6 a Sénior com 30 anos, porque está ali apenas para mostrar a sua competitividade pessoal, é a expressão mais elegante que conheço, para pertencer ao grupo e para se divertir.

São os que metem nas suas contas do Insta vídeos com a legenda “Ganda Mocada ao Mateus”, para brilharem junto das “babes” e dos manos.

Isto só mudará se também forem alteradas as regras das nossas competições, como veremos mais à frente nesta secção.

Passemos então a escrever apenas sobre as Manas, os Manos e as Estrelinhas que, apoiados pelos dois grupos Parental, levam a competição a sério.

Não a poderão levar se antes não for resolvida uma condição fundamental.

Efectivamente, há, entre todas as outras, uma condição extremamente delicada que tem de ser resolvida.

Quando as nossas Manas, Manos e Estrelinha chegam aos 18 anos, podendo ser séniores, e até aos 35 anos, têm de lhes ser garantido um processo profissional desportivo rigoroso e seguro que lhes garanta condições para terem um futuro e para poderem trazer o pão para a mesa da sua família.

Este é uma questão moral e ética a que todos temos de dar enorme dedicação.

Não podemos continuar a deixar que, com o objectivo de potenciar o valor competitivo das nossas equipas, jovens, por deslumbramento ou com guiamento parental fraco, escolham como prioridade de vida e profissional o râguebi, interrompendo ou adiando os estudos universitários, trabalhando em empregos precários ou sem carreira definida, e acabando como quadros técnicos no râguebi, que, como vimos, não tem carreira institucionalizada.

Conheço pessoalmente muitos destes casos, passados e presentes, dos SUB 18 aos veteranos, e não são bonitos.

Poderão alguns Senadores, da federação e dos clubes, alegar, mas eles são maiores de idade.

Não, não e não, nem pensar.

A responsabilidade é nossa porque somos nós que os pomos a sonhar com o râguebi.

A este propósito, recordo aqui um caso particular, ligado ao mais promissor “8” surgido há duas épocas no escalão SUB 18.

O jovem passou rapidamente ao escalão sénior, mas, felizmente para ele, tem um pai que é um quadro superior em território global, que sabe que a vida já não é como “antigamente”.

Sabe que não há lugar garantido na empresa do tio ou no banco da amiga, até porque hoje, na maior parte dos casos, quando se fala de empresas portuguesas, estas são dominadas por capital espanhol, chinês e americano.

O nosso promissor “8”, quando terminou o liceu, levou a conversa que merecia, “o menino andou a brincar ao râguebi, agora já tem idade para perceber o que interessa”.

Foi estudar para os EUA.

Há-de voltar, claro, mas com o diploma e como quadro com futuro de uma multinacional.

Temos então de encontrar um estatuto profissional e legal para os jogadores dos 18 anos aos 35 anos que levam a competição a sério.

É uma equação extremamente complexa.

Sabemos que as Manas, Manos e Estrelinhas que levam a competição a sério se dividem nos grupos “Ilusão Perigosa”, já aqui dissecado, “Maratonistas”, os que conseguem jogar e estudar e trabalhar ao mais alto nível, excepto em situações pontuais, “Rapaziada com Sorte”, aqueles com trabalho que lhes permite treinar e jogar ao nível exigido, e “Mano, Não Dá Mesmo”, os que interrompem a carreira desportiva por estudo ou trabalho, e acabam por voltar.

É preciso, então, tal como no caso dos treinadores e quadros técnicos, encontrar um estatuto, com a inerente tabela remuneratória, que regule as carreiras de jogador destes grupos.

O estatuto tem de extinguir sem apelo o grupo “Ilusão Perigosa” e permitir aos grupos “Maratonista”, “Rapaziada com Sorte” e “Mano, não dá mesmo” trabalhar ao mais alto nível desportivo, muito superior ao que trabalham agora, como veremos de seguida nesta secção.

O estatuto tem obrigatoriamente de, como referi, impedir a existência de membros do “Ilusão Perigosa”, decretando sem ambiguidade que a partir dos SUB 16 ficam impedidos de jogar atletas que não cumpram o seu percurso escolar, seja académico, politécnico ou profissional, ou não tenham, a partir dos 18 anos, um percurso profissional sustentável, e não precário.

Tem, depois, de encontrar tabelas de remuneração adequadas aos restantes três grupos que refiro, conforme o nível do “litro” que dão ao clube e às várias equipas Lobo.

Como escrevi, o estatuto tem de obrigar os clubes a criarem condições para os atletas renderem ao mais alto nível desportivo, enquanto cumprem os seus deveres académicos e profissionais.

Não passa só por remuneração, passa muito por ter funcionários de recursos humanos capazes de negociar com universidades e empresas.

Mas, claro, passa também por remuneração, porque todos, mais uma vez, temos o dever de trazer o pão para a mesa, se formos adultos, homens e mulheres.

A este propósito, não se pense que, como “no antigamente”, os jogadores querem jogar apenas pelo amor à camisola.

O mundo mudou, os Manos, as Manas e os Estrelinhas sabem o que se passa em Espanha, em França e na Nova Zelândia, graças às plataformas digitais.

Como escreve o autor do artigo já referido no “The Rugby Journal”, edição Março de 2023, “for the Lisbon-based dentist (NA: o capitão Appleton), getting money out of the union can sometimes feel like pulling teeth. Talks are currently taking place with the Portuguese union about how Os Lobos’ players will be rewarded for their time in the lead-up to the World Cup and at the tournament itself, in addition to any performance-based pay”.

O jornalista acrescenta que “with World Cup qualification comes increased revenue from sponsorship and the like, and while Tomás would play for just the love of the jersey, as he has done since his debut in 2013, he feels their efforts and extra dedication should be acknowledged”.

De seguida, o jornalista cita o capitão Appleton, referindo que este diz que “the union president takes care of it and I have a big job on it, most of the meetings and discussions are with me (…) What was proposed was that we would get prize [bonus] money for wins [in the qualifiers] but we would only get it if we got to the World Cup”.

Para o capitão, esta remuneração é mais do que justa, porque, declara ele, “we know rugby can generate money from sponsorship and everything. I have been playing for the national team for ten years and I have had next to nothing compensation-wise for playing”.

Acrescenta finalmente o capitão, tocando no ponto essencial que refiro em parágrafos anteriores, que “during preparation for the World Cup players will have to stop working and the union will have to compensate us for the money that we will lose, and we are also talking about World Cup prize money as well”.

O mesmo se passa, claro, todas as semanas com os que jogam de SUB18 a Sénior, e é em larga escala porque os clubes não os remuneram que os nossos heróis não têm o nível de treino de que necessitam para estarem no ponto máximo durante as competições.

Têm de estudar ou trabalhar, e treinam à noite, ou de madrugada, no ginásio.

Felizmente, neste momento, os Manos, as Manas e os Estrelinhas têm entre si jogadores qualificados para debater este tema e chegar a um esboço de estatuto com rigor e qualidade para ser aprovado pelo IPDJ.

Um grupo coordenado pelo Jorge Abecassis, pelo Vasco Ribeiro, pelo Nuno Mascarenhas, pelo Afonso Rodrigues, e por alguns outros, assessorado pelo Diogo Mateus e pelo João Moura, dada a sua experiência, seriedade e bom senso, conseguirá atingir o objectivo.

Chegamos então à dimensão fundamental da competição, o valor competitivo das equipas, que determina a qualidade dos jogos e dos campeonatos.

Recuperando a nossa metáfora, marquemos então o ensaio ficcionado no começo desta secção.

Partilho os padrões monótonos da nossa competição, passada, presente e futura.

Nos escalões de SUB 14 a SUB 18, a Agronomia, o Direito e o CDUL ficarão sempre nos primeiros três lugares das respectivas competições nos próximos cinco anos, como ficaram nos últimos cinco anos, com raras excepções.

As excepções referidas são as criadas por um número restrito de outros clubes, o Cascais, o Belenenses, o Técnico, e numa dimensão temporal mais curta, o Évora e a Académica, numa época boa, isto é, quando conseguem ter uma geração bianual de qualidade, conseguindo ficar nos primeiros três lugares, e por vezes até ganhar uma das competições referidas.

O mesmo se pode escrever para o “Honra”, se, tendo como referência as últimas e as próximas cinco épocas, criarmos uma grelha assente em potencial campeão regular, o Belenenses, potenciais campeões em época pontual, o Técnico e a Agronomia, e potenciais candidatos a campeões, o Cascais, o Direito e o CDUL.

Repare-se que num universo de 51 clubes, estamos sempre a escrever principalmente sobre seis clubes, mesmo se alargarmos o período de observação das últimas e futuras épocas, tendo como referencial a de 2022–23, de cinco para dez anos.

Se, reduzindo de novo o período de observação, levarmos a análise para os próximos cinco anos, tendo como referencial o valor das equipas SUB 18 e “Challenge” 2022–23, ficamos novamente reduzidos às mesmas seis equipas, sendo que, se não existirem abandonos massivos de jogadores, ou contratações de jogadores estrangeiros de elevado valor, entre outros factores, o Belenenses e o CDUL têm uma pequena vantagem na potencial conquista de títulos.

Neste campo, acrescentemos outro quantitativo da federação.

Mais de 85 por centos dos jogadores de râguebi com estatuto de alta competição são de Lisboa.

Mas esta previsibilidade monótona nem sequer é o problema maior da nossa competição.

O problema grave é o valor competitivo durante a época, que determina a qualidade das equipas e especialmente a dos jogos, decisivos para o interesse dos adeptos, das empresas e do poder político.

Um adepto que se interesse pela competição, e conheço dezenas deles, que não vá só ao campo do seu clube para se distrair, sabe em Outubro quem vai à final em Maio.

É claro que a sua análise não pode ter em conta interferências não preditivas, como as lesões ou abandono temporário de dois ou três jogadores decisivos, quebras de espírito colectivo, ou outras variáveis.

A este propósito, devo aqui anotar que só o elencar destas últimas variáveis revela a fragilidade das competições, porque exibe a precaridade qualitativa das equipas nacionais.

Qualquer variável menor num contexto clubístico competitivo, por exemplo a lesão de um jogador decisivo, ou uma quebra de concentração motivada por uma anomalia, no nosso contexto nacional altera radicalmente o rendimento da equipa.

Vejam-se, como exemplos, entre tantos outros, os resultados do Belenenses nos dois jogos “Honra” 2022–23 imediatos à sua conquista da Taça Ibérica, ou a oscilação de rendimento durante as três últimas épocas do Direito e do CDUL.

Mais ainda, observe-se em pormenor as últimas três épocas do “Honra”, especialmente esta de 2022–23.

Garantem alguns observadores que esta época 22–23 do “Honra” está a ser altamente competitiva, mas esquecem-se de acrescentar que tal se deve ao que podemos descrever como competitividade negativa.

Na verdade, o que vemos, jornada após jornada, é que a maioria das equipas, quase sem excepção, não consegue manter um rendimento alto nem durante a duração de um jogo, nem de jogo para jogo.

Tal deve-se a um conjunto de variáveis técnicas, entre estas a limitação quantitativa das equipas e a escassez de rendimento alto e de constância da maioria dos jogadores.

Mas deve-se também a outros dois factos.

Usando a grelha contextual que aqui partilhei, só seis equipas necessitam de trabalhar profissionalmente para conquistar o título.

Sendo o grupo tão restrito, o valor competitivo e exibicional dos jogos, mesmo os que envolvem as seis equipas, na esmagadora maioria dos casos é muito baixo, porque estas sabem que têm margem de falha.

Assim, nas últimas três épocas, acertei sempre nos finalistas e no campeão logo em Outubro, excepto na época em que o Técnico ganhou ao Direito.

Não sou um génio excepcional, pelo contrário, a minha previsão foi igual à de dezenas de adeptos com a tipologia que referi.

A este propósito, devo contar uma grande lição que o “Bico” Bettencourt, esse profundo conhecedor, muito mais analítico do que a maioria pensa, me deu.

Sempre fiel à minha crença democrática, fiquei muito feliz por o campeonato de topo SUB16, creio que na época 2017–2018, mas já não me recordo, ser aberto a todos os clubes que quisessem inscrever-se.

O “Bico” olhou para mim, sorriu, e disse “Não sejas maluco, pá. Isto vão ser umas jogas renhidas entre nós, a Agroo, o Direito, o CDUL, o Belém e o Técnico, e uns cabazes com os outros. Uma seca e uma estupidez para os miúdos, quer para os que ganham, quer para os que perdem”.

Como todo o observador dedicado sabe, e uma das grandes deficiências do nosso râguebi é que os responsáveis e os treinadores principais dos clubes não estudam as competições abaixo de sénior, o “Bico” tinha toda a razão, e a sua grelha de análise pode ser aplicada dos SUB 14 ao Honra.

As estatísticas das últimas cinco épocas, das referidas competições, iluminam e validam de modo implacável a análise do “Bico”.

Tirando anos excepcionais para a Académica e para o Évora, nos escalões abaixo do Honra, e mesmo com a injecção de profissionais de outras nacionalidades, no Honra, a competição reduz-se a “jogas” por vezes, só por vezes, renhidas entre Agronomia, Belenenses, Cascais, CDUL, Direito e Técnico, e a “cabazes”, que até SUB 18 chegam aos 70 pontos, que estas equipas dão às outras, tirando um escasso número de jogos no “Honra”, não mais de cinco por época, onde a constante referida é quebrada.

O padrão que retiramos daqui é o de que as nossas competições são época após época de nível competitivo muito baixo.

Existem vários modelos competitivos mais atraentes que o actual, baseado numa separação vincada entre Honra, CN1 e CN2, propostos por peritos, federativos e externos ao órgão superior.

Estes modelos dariam muitos mais jogos às equipas do CN1 e CN2, que por vezes não passam de uma dezena de jogos por época.

Creio que não vingarão, porque obrigam os seis clubes maiores a mais jogos e deslocações, e poderão contribuir para um aumento da qualidade competitiva das equipas do CN1 e do CN2, mas não das equipas do “Honra”.

O único trilho para destruir esta monotonia eterna é o de os clubes, nas suas equipas de SUB 16 a seniores, abdicarem do emblema, isto é, de deixarem de se apresentar a competição com as equipas dos seus clubes, e se associarem entre si, criando, para usar o termo anglo saxónico, “franchises”.

Desenvolvendo, os clubes serão academias até aos SUB 14, e “franchises” a partir deste escalão.

É uma revolução, sem dúvida, e as revoluções metem medo, claro.

Mas, na minha experiência e reflexão pessoal, que pode estar totalmente errada, não há outro caminho.

Tenho, mais uma vez, um arsenal acumulado de dados empíricos e quantitativos, dos quais alguns partilhei nos parágrafos anteriores, que sustentam de modo racional a minha proposta de caminho.

Estes dados empíricos têm como fontes, revelo, doze anos de observação contínua dos torneios de formação, dos campeonatos de competição SUB 16, SUB 18, Challenge e “Honra”, dezenas de horas de conversa com peritos de bom senso, estudo dos padrões estatísticos das competições referidas, com as matrizes feitas por mim, porque mais uma vez não há partilha oficial da federação, e estudo dos sistemas irlandês, neozelandês, sul-africano e italiano, sendo que os dois primeiros assentam exactamente em “franchises”, geográfico, no caso irlandês, e geográfico e escolar, na esfera da ilha das mil nuvens.

Não conheço, infelizmente, e era importante conhecer, os sistemas argentino e espanhol, por não conseguir encontrar informação sólida.

Deste modo, quero acrescentar apenas mais um dado empírico determinante para a sustentação do trilho competitivo que considero ser o mais eficaz.

Nas últimas três épocas, nos escalões de SUB 18 a “Challenge”, tendo como referência temporal esta época, a de 2022–2023, o CDUL encetou um processo semelhante ao de “franchise”, mas com ponto de recepção unilateral.

Detalhando melhor, acolheu nas suas equipas os melhores jogadores de várias equipas de menor competitividade dos nossos campeonatos.

Este processo, não porque elevou extraordinariamente o índice de valor das suas equipas, que já era alto, mas porque trouxe mais valor acrescentado decisivo às suas equipas, permitiu-lhe ser campeão em alguns dos escalões referidos e irá permitir-lhe, nas épocas de futuro próximo, discutir o título de campeão, dos SUB 18 ao Honra.

É um processo que deve ser partilhado pelo CDUL e estudado por todos nós.

Não menciono aqui outros “franchises” activos no nosso râguebi, que estudei, porque os resultados, por várias razões, não são positivos.

Acredito então, pelos dados e análise aqui partilhados, que não há outra saída a não ser a de criação de “franchises” nacionais.

Curiosamente, os 51 clubes de râguebi nacional estão mais do que maduros para encetar esta revolução e têm todas as condições, especialmente as de recursos humanos e logísticas, para a executar.

A Norte, Centro e Oeste, é de todo lógico que CDUP, Lousã e Académica se unam, trazendo para si Caldas, CRAV, Sport, Agrária, Bairrada e todos os outros pequenos do seu perímetro.

O CRAV, que eu respeito incondicionalmente, terá enormes problemas de mobilidade, mas não creio que tenha outra opção, porque Braga, Guimarães, Douro e outros não terão capacidade competitiva.

O Caldas, onde o meu amigo Pato Lamboglia faz um trabalho miraculoso, contando agora com o nosso brilhante Giorgio Turabelidze mais velho, um dos moços mais simpáticos e educados que conheço, terá também, aproveitando a A8, de entrar neste “franchise”.

Não resisto, mais uma vez, a contar uma história com o grande Giorgio, que é realmente um excelente rapaz.

Estava eu a entrevistá-lo e perguntei-lhe como é que se concentrava antes dos jogos.

“Com vídeos de pilar no Youtube”, respondeu ele, muito timidamente.

E eu, sempre melga, “o que é isso de vídeos de pilar?”.

E o Giorgio, muito envergonhado. “Vídeos de mocada”.

O “franchise” Norte-Centro-Oeste recebe até a graça de ter um potencial excelente nome para o “franchise”, do ângulo de comunicação, fundamental para captação de patrocinadores, que é o ROP (Râguebi de Origem Protegida), que remete para o precioso Douro, claro, e para todos os maravilhosos alimentares das suas regiões.

A Sul, CRE, Montemor, Santarém, Elvas e Loulé beneficiam da conjuntura revelada no parágrafo anterior, tendo também condição para trazer a si todos os outros pequenos da sua geografia próxima, incluindo Moita, Alcochete e Setúbal.

Garantem também a graça de ter disponível um grande nome, Linces da Planície e da Lezíria (LPL), que remete para o felino reintroduzido nas suas planícies, e concorre com Lobos.

Na Área Metropolitana de Lisboa, como todos os peritos do nosso râguebi sabem, o processo de criação de “franchises” terá de correr a duas velocidades.

Numa primeira, São Miguel, Benfica, Belas e Sporting, estes dois últimos jogando já em franchise há três épocas nos escalões SUB 16 e SUB 18, têm as condições exigidas para avançar.

Têm um problema bicudo com o nome, se ligarem apenas à minha escassa imaginação, já que o único que me ocorre, o Râguebi Segunda Circular (RSC) levantará protestos do Santarém, isto é, RCS (Rugby Clube de Santarém).

Como escrevi, na primeira velocidade Agronomia, Direito, CDUL, Técnico, Belenenses e Cascais irão manter-se orgulhosamente sós.

Mas, acredito eu, se este processo de “franchise” avançar de modo profissional, isto é, se os “franchises” tiverem orçamento, liderança institucional e técnica correcta, e adesão de actuais e antigos jogadores dos clubes associados, vai muito rapidamente acontecer uma coisa.

Em duas épocas, o ROP chega á final do Honra.

Em três épocas, o ROP, o LPL e o RSC poderão disputar as meias-finais do Honra.

O mesmo acontecerá em SUB 18 e Challenge.

Assim que isto acontecer, os seis da tradição, violada a tradição, vão ter de agir.

O Direito e a Agronomia irão unir-se, criando o VRC (Verde Rugby Clube) aludindo a Monsanto e à Tapada, sendo um nome brilhante para os patrocinadores, já que a sua natureza remete para o ESG, hoje indispensável para o patrocínio empresarial.

O Cascais e o Belenenses, aparentemente devido à questão geográfica, mas na verdade sendo manipulados pelo plano secreto do meu amigo Pedro Pissarra, irão também unir-se.

O nome que alguns avançam de imediato, Râguebi Pastéis da Guia (RPG), terá de ser recusado liminarmente, porque alude ao instrumento de guerra RPG, mas não é problema grave, porque CDR (Cruz Dramático Râguebi) é um grande nome.

Isto deixa, claro, o CDUL e o Técnico com um enorme problema, até porque, estrategicamente, os seus dirigentes sabem que têm jogadores para ganhar títulos nas próximas épocas, no caso do CDUL em SUB 18, Challenge e Honra, e ficam confrontados com uma conjuntura distinta.

Sobre como é que se monta a mecânica competitiva de campeonatos com este perfil, deve-se obviamente falar muito com o Bernardo Costa Duarte, dada a experiência que tem, única em Portugal, das competições da World Rugby e do campeonato brasileiro.

Não estou de modo algum a promover um amigo, porque não o somos.

Estou a reconhecer competência onde ela está, e é sempre assim que devemos pensar quando pensamos no nosso râguebi.

Escrevo agora apenas para os grupos Parental Desqualificado, Media Pro, Querido Mecenas, Estrelinha e para alguns dos membros do Manas e Manos, especialmente os mais novos, porque todos os outros grupos sociológicos mencionados neste texto sabem muito melhor do que eu o que traz esta revolução.

Traz, como é límpido, uma enorme elevação do valor competitivo dos nossos campeonatos, do de SUB 16 ao de “Honra”.

Vamos apontar apenas os componentes essenciais que criam este valor competitivo revolucionário.

Nas equipas dos “franchises”, de SUB 18 a Sénior, deixam de existir lugar cativos, tanto por valor individual como por influência familiar, porque passa a haver finalmente, como hoje não há, competição interna.

Todos os jogadores terão de dar incondicionalmente o litro.

As vitórias, nos campeonatos que refiro no parágrafo anterior, serão decididas por pormenores, como hoje são nas principais competições globais de clubes e selecções, o que obriga ao máximo profissionalismo técnico.

Falo de conhecimento que treinadores e técnicos terão de ter para assumirem o cargo, assente em experiência efectiva, saber técnico e táctico de elevado nível, e em dados quantitativos, através da introdução da análise quantitativa individual e colectiva, para além de que os departamentos terão de mostrar a eficácia do treino físico, da fisioterapia e da medicina.

Com a mostra de verdadeiro profissionalismo, treinadores, quadros técnicos e jogadores passam a ter base para exigir condições de trabalho adequadas aos dirigentes.

Estes últimos, para além de terem de acabar com as “brincadeiras” durante os jogos referidas neste texto, terão de se dedicar em tempo inteiro às estruturas, sendo igualmente obrigados a contratar quadros qualificados. ´

Se não o fizerem, terão de, perante uma conjuntura persistente de derrotas, de prestar contas a jogadores e sócios, incluindo Senadores e Companheiros de Balneário.

Esta mudança radical de valor competitivo levará a que, em duas épocas, tenhamos um “franchise” capaz de disputar uma competição europeia de clubes, ou de participar nas competições espanhola ou italiana.

Esta participação melhorará tremendamente o valor individual dos nossos jogadores, para benefício dos Lobos, que terão uma base muito maior de recrutamento, e não apenas aquela que neste momento usam.

Estude-se o que, a partir de 2015, a participação da Argentina no Superugby com os Jaguares, trouxe de aumento de valor competitivo para os Pumas, o seu XV nacional.

Os árbitros terão de acompanhar o aumento de valor competitivo e os analistas da arbitragem terão de revelar publicamente os seus relatórios.

A federação ficará com menos competições para financiar e gerir, concentrando recursos no essencial.

O aumento de profissionalismo nos “franchises” aumentará a incerteza nos campeonatos e a competitividade nos jogos.

A competitividade alta e a incerteza permanente geram emoção e admiração.

Traduza-se novos jogadores e adeptos.

Atrás deles, vêm, à velocidade de um comboio japonês, os grupos Media Pro e Querido Mecenas.

Com a chegada destes, o poder político irá rapidamente aparecer.

Se encontrar a dinâmica clássica que sempre procura, e irá encontrar, vai apostar no nosso râguebi.

Leia-se exposição mediática e financiamento.

Não preciso de continuar a escrever sobre o efeito benéfico da revolução.

Termino esta secção com uma nota triste.

Os Senadores, Parental Qualificado e Companheiros de Balneário leram todos os parágrafos deste secção sempre com o seguinte pensamento.

Mas como é que “#”$”$ão é capaz de escrever todas estas heresias e blasfémias sem escrever uma única vez sobre os infinitos problemas que o trilho dele cria, o que transforma o referido trilho numa fantasia de um pateta.

Lamento, queridos leitores, mas sendo eu um “dinossáurico” intelectual, escrevo muito, e o que escrevo não dá para ler num écran de telemóvel.

Assim, terão de passar à secção seguinte deste texto para descobrirem que nomeio e disseco todos os infinitos problemas que VEXAS irão invocar.

Mais ainda, tenho solução para eles todos, imaginem.

Blasfémia, suprema blasfémia.

Queimem-no no parque de estacionamento de Monsanto, pendurem-no pelo pescoço na varanda das Olaias, atropelem-no ao lado dos viveiros da Tapada, em frente da casa onde morou o PJ, um dos enormes profissionais que por cá passou, juntamente com o Damian.

5) O râguebi português exclui-se do mundo contemporâneo

A publicação onde estudei em 1997, graças a uma bolsa da Universidade de Chicago, The Bulletin of Atomic Scientists, é conhecida mundialmente pelo seu “The Doomsday Clock”.

O “relógio do dia do juízo final” é permanentemente actualizado, através de relatórios de peritos, com a possibilidade de o mundo sofrer uma guerra nuclear.

Quanto maior for o perigo, mais o ponteiro dos minutos fica perto das 24 horas.

O râguebi nacional tem também um relógio com esta tipologia, que nunca é mostrado, e que neste momento, o da época 2022–23, indica que estamos a poucos minutos de sofrer um ataque nuclear.

Refiro-me obviamente ao facto de os nossos seis principais clubes, bem como a maioria dos outros, com as excepções magníficas que todos conhecemos, não incentivar activamente, para colocar o tema de um modo diplomático, o râguebi feminino.

É uma circunstância que nos deixa vulneráveis a todo o momento a um ataque nuclear, ou seja, mediático.

Para desenvolver de modo mais claro, e de uma maneira simples, os nossos “benfica”, “sporting”, “porto”, “braga”, e mais dois que não sei quais são, não têm râguebi feminino de formação e de competição.

Ui, valham-me todos os santinhos nos seus altares, para usar uma expressão dos dirigentes do CRAV.

Vamos então explorar o tema mais a fundo, para vermos se o cenário fica claro sem margem para qualquer dúvida.

Comecemos com um caso de râguebi de topo.

Em Dezembro de 2020, Pablo Matera, capitão da selecção argentina, um dos jogadores que mais venero, a par do Michael Leitch e do Tipuric, foi forçado a demitir-se de capitão, semanas depois do seu XV ter ganho aos “all blacks” pela primeira vez.

Na data referida, Matera enviou aos media o seguinte comentário.

“Estou muito envergonhado. Peço desculpa a todos aqueles que se ofenderam com as barbaridades que escrevi. Na altura, nunca imaginei em quem me iria tornar. Hoje tenho de viver com o que disse há nove anos”.

Matera publicou o comunicado depois de os media argentinos terem replicado postagens suas, carregadas entre 2011 e 2013, com comentários racistas e xenófobos.

Peço, queridos leitores, que olhem para as datas que refiro.

Faço aqui um pequeno parêntesis para que não me voltem a chamar paranoico quando defendo que os nossos manos, manas e estrelinhas devem, a partir de SUB 18, ser formados sobre o que podem e não podem publicar nas plataformas digitais, tanto nas postagens, especialmente em vídeo, como nos comentários.

Retornando ao caso Matera, explico porque é que o feroz capitão se transformou num cordeirinho da Patagónia.

Façam aqui uma pausa e vão ao Google Images.

Estão a ver na camisola do Pablito quem é o patrocinador dos Pumas?

Pois, os meninos grandes não brincam em serviço.

Alarguemos então a nossa lente de análise do mundo contemporâneo do râguebi de topo para o mundo contemporâneo dominante.

Posso escrever sobre o caso do gigantesco produtor de Hollywood, “a real titan”, sobre o caso do meu digníssimo par académico de Coimbra, sobre a greve das futebolistas americanas, ou chatear-vos com o que todos os dias acontece nas universidades ocidentais de topo, a começar por Oxford.

Tanto faz, para mim, e para si, cara leitora e caro leitor.

Qualquer que seja a lente de observação, uma das linhas políticas e sociais dominantes do mundo contemporâneo é a da luta feroz pela plena igualdade de género, pela aceitação de géneros não binários e pela igualdade racial.

É totalmente irrelevante o que pensamos sobre o tema.

Interessa apenas que é assim, em Portugal, em Sydney, em Auckland, em Joanesburgo, em Nova Iorque, em onde quiserem.

E se é assim, é por aqui que vão os media, os financiadores e os políticos.

É por esta razão, porque no futebol nacional também não se brinca, que o Benfica e o Sporting jamais teriam râguebi se não tivessem râguebi feminino.

E, perante esta condição global contemporânea, sempre de extremo valor mediático, ou seja, que chega imediatamente a todos os cidadãos, dizemos aos pais, aos patrocinadores e aos políticos que no nosso râguebi “menina, não entra”.

É claro que seremos desfeitos e cancelados em 24 horas se um media tabloide, visual, sonoro ou textual, de legado ou digital, “pegar” na história.

Convém então que tomemos algumas medidas fundamentais o mais rapidamente possível.

A primeira é de nível clubístico, e tem a ver com o facto de que um dos nossos principais clubes tem de rapidamente cumprir a promessa de abrir formação feminina, para manter o seu principal patrocinador actual da formação.

A segunda é, como não podia deixar de ser, a de darmos o prémio de treinador do ano ao Professor João Moura, e não ao Seleccionador Patrice Lagisquet.

É claro que o Seleccionador e a sua grandiosa equipa fizeram um trabalho notável, mas a tarefa que o Professor Moura executou é apenas para um mágico, muito bem aconselhado familiarmente, que a Dona Maria também não brinca em serviço.

Em duas épocas, este “homem”, para usar um termo que ele gosta, pegou num universo de 500 jogadoras, das quais 200 são seniores, algumas de idade respeitável, envolvidas numa competição precária, e quase inexistente de SUB 18 para baixo, e das quais 60 só jogam “touch”, e extraiu daquele uma selecção nacional que subiu de nível na Europa.

“Chapeau”, Professor Moura, o senhor é grande, e alguns de nós sabem isso.

A terceira medida é, sem margem de discussão, que nenhum clube pode jogar nos campeonatos, incluindo o “Honra” na época 2023–24 sem mostrar o que está a fazer materialmente, e não em carta de intenção, para captar jogadoras, e nenhum clube poderá jogar nos campeonatos de 2024–25, incluindo o “Honra”, sem provar que tem pelo menos dez jogadoras inscritas e activas nos escalões SUB 8, 10, 12 e 14.

Violento, novamente, sem dúvida, e confronto directo com a cultura da nossa maioria.

Mas não temos outro modo de escapar ao ataque nuclear, que se chegar, chega segundos depois ao Governo democrático.

Ou seja, poucos minutos depois ao IPDJ e aos patrocinadores.

Mudemos agora de foco, mas continuando no tema desta secção, o de que o nosso râguebi se exclui do mundo contemporâneo, e escrevamos sobre o senhor Satya Nadella.

Para os que não o conhecem, o Senhor Nadella tem uma fortuna pessoal de 350 milhões de dólares e é o CEO da Microsoft.

O Senhor Nadella nasceu na Índia.

Por outras palavras, é tão louco por críquete como nós somos loucos por râguebi.

De há dois anos para cá, o senhor Nadella começou a concretizar um dos seus grandes sonhos, o de tornar o críquete num desporto de massas nos EUA, e depois no mundo.

Rapidamente, o Senhor Nadella reuniu os seus amigos multimilionários e criaram um fundo para abrir uma competição de topo de críquete nos EUA, que vai arrancar na época 2023–24.

Mas, antes, o Senhor Nadella teve de resolver um problema aparentemente inultrapassável.

Um jogo de críquete dura muito tempo, dias no caso das competições maiores.

É um dos pilares da tradição do críquete.

Bom, o Senhor Nadella reduziu o tempo dos jogos que serão jogados na sua “league” para três horas.

Num minuto, adeus tradição.

Explico porquê.

O Senhor Nadella ama a tradição do críquete e, se pesquisarem o território digital, vão encontrar inúmeras entrevistas onde ele confessa que tudo o que é, deve-o ao críquete.

Como muitos de nós dizem o mesmo, mas em relação ao râguebi.

Só que para tornar o críquete num desporto de topo, o Senhor Nadella tem de o transformar num desporto de “broadcast”, tradicional e digital, e num desporto para as famílias irem ver, enquanto comem uns cachorros, se tiverem aculturadas, ou um bom “naan” libanês.

Três horas é “cool, bro” e é “cool, sis”. Ou é o tempo ideal para descobrir que “these guys rock, man”.

Mais uma vez, “so long tradition, my beloved buddy”.

Perante este exemplo, e tantos outros que podia aqui partilhar, não percebo porque é que o Senhor Presidente e os Senhores Senadores continuam a fazer um finca pé que nem o Artur na “ordenada”, aguentando ali com os avançados todos do Direito, contra as novas regras da World Rugby.

Vamos lá ver se nos entendemos de uma vez por todas.

A World Rugby tem um racional para o que está a fazer e vai continuar a fazer.

Esse racional, acrescento já agora, está em todos os documentos estratégicos de pormenor que publica na sua plataforma digital.

A World Rugby precisa de A) reduzir drasticamente a violência no râguebi e B) tornar o râguebi num espectáculo desportivo global de massas emotivo.

A World Rugby sabe que sem isto não há praticantes e não há financiamento.

Ponto final.

Assim sendo, vamos lá todos parar, na SportTV e nos campos, de assobiar o Wayne Barnes, o Paulo Duarte ou o Diogo Inácio cada vez que eles dão um amarelo a um jogador por ter placado acima da linha da “peitaça”.

É que na verdade, segundo as regras, deviam dar um vermelho.

E vamos lá todos parar de resmungar, “isto já não é râguebi”, cada vez que os árbitros nacionais aplicam as novas regras de redução do tempo nas “ordenadas”, nos “alinhamentos” e nos pontapés aos “postes”.

Acima de tudo, vamos lá parar de ensinar de SUB 14 para cima que “malta, isto é mocada, sem mocada não é râguebi”.

Vamos lá ver se nos entendemos a sério, mais uma vez.

Eu, dinossauro, como já aqui escrevi, fui educado que um homem é trabalho, dever e honra.

O meu treinador, nos meus treze anitos, quando jogávamos mal, punha-se a gritar no balneário “seus #$#$lhos da #$#ta do #$#$lho, parecem umas “#$jas a jogar”.

A malta ia para casa e chorava.

Na segunda-feira, uns já não apareciam, e nós continuávamos a aparecer.

Não interessa nada o que isto me ensinou, porque o mundo, mesmo em Portugal, mudou a partir de 1986, no nosso caso. Novamente no contexto nacional, devagarinho, pouquinho, mas mudou.

Hoje os pais dizem às filhas e aos filhos quando os levam no Série 5 ao jogo, a propósito eu atravessava Lisboa de autocarro para jogar, “divirta-se”.

Assim sendo, como é que nós queremos que os pais metam as meninas e os meninos num desporto de mocada, e os patrocinadores metam a “massa” num desporto que é uma mocada colectiva.

O que a World Rugby está a tentar, e por incrível que pareça está a conseguir, é fazer a quadratura do círculo, ou seja, manter as características de combate que definem o jogo, mas retirando tudo aquilo que é violência eliminável e prejudicial, e tudo aquilo que torna chato o espectáculo.

Nós também temos de a fazer.

Como, numa outra dimensão, rigorosamente fundamental para a sobrevivência do nosso râguebi, temos de continuar a amar o emblema, mas temos de abdicar dele para ser competitivos, e resolver todos os problemas de disputa de Poder, de liderança, e de distribuição de cargos técnicos e de activos humanos e logísticos que impedem a criação de “franchises”.

Temos de aceitar o que o râguebi de alto nível é hoje.

Um desporto que sabe que não irá sobreviver se não for um desporto e um espectáculo global de massas.

É por esta matriz que temos de ir.

Não há outra, a menos que escolhamos deliberadamente ficar no gueto, o que é a opção de alguns dos nossos, por múltiplas razões, todas elas ligadas a poder e influência.

Comunico neste ponto, bondosa leitora, bondoso leitor, que estou já perto do fim deste ofensivo, monótono e alucinado escrito.

Bendito sejais, dirão, com toda a razão, os que nomeio no parágrafo anterior.

O que escrevi até agora, no fundo, é uma agenda para um Senhor Presidente e para uns Senhores Senadores que amem o nosso râguebi, e sobre este sentimento de cada um deles não temos dúvidas, que coloquem os interesses do nosso râguebi acima dos seus, e que tenham proximidade do mundo contemporâneo e não vivam em guetos dourados.

Ou seja, uma agenda para homens bons e dedicados, mas que estão ainda tomados por uma visão colectiva de túnel, para usar o calão de gestão contemporâneo.

Reduzindo ao essencial, temos apenas umas escassas tarefas para executar, e que podem todas ser cumpridas neste Verão de 2023, dado que falamos de uma demografia muito limitada.

Temos de alterar os estatutos da federação, do processo eleitoral, e dos clubes, para tornar o nosso râguebi democrático.

Temos de dar estatuto profissional aos nossos heróis, treinadores, quadros técnicos e jogadores.

Temos de levantar “franchises” competitivos em território nacional e na Europa.

Temos de alterar o modelo das nossas competições.

Temos de dar dignidade aos campos e aos jogos.

Temos de mudar radicalmente a nossa comunicação.

Se o fizermos, teremos presença na população e financiamento público e privado.

Guardo para o fim deste texto o mais importante que temos de fazer.

Em relação ao que escrevi nesta secção, nada vai acontecer.

Nada vai mudar.

Nada vai mudar porque os agentes decisivos do nosso râguebi, com notáveis excepções, preferem preservar o seu Poder e têm um medo irracional da mudança, estratégica e táctica.

De novo, são excelentes pessoas e profissionais, mas, pelas razões apontadas aqui, e por várias outras, são cultural e mentalmente estáticos.

Há apenas uma remota possibilidade de mudança, gerada pela potencial manifestação de um pequeno sismo, cuja natureza igualmente partilharei abaixo nesta secção final do texto.

A impossibilidade de mudança da natureza do Poder e do nível da competição do nosso râguebi tenderá a manifestar-se do modo que partilho de seguida.

12h30.

Telefonema de um decisor de um dos seis clubes nacionais de topo para um decisor federativo.

“Pá, estás bom, pá?”

Decisor F

“Bom-dia, pá. E tu?”

Decisor Clube

“Top, pá. Olha lá, leste aquilo do maluco que anda aí a pôr-se em bicos dos pés, pá, aquilo no Linkedin, pá?”.

Decisor F

“Mas estás a falar de quê, pá. Link quê, pá?” (tendo lido o PDF imprimido pela Rita).

Decisor Clube

“Ó pá, aquilo de que o râguebi não existe, pá”.

Decisor F

“Epá, mas estás a chatear-me a esta hora da manhã por causa de uma #$#$da que nem sei o que é, pá? Diz lá, o que é que queres, pá?”

Decisor Clube

“Pronto, tá bem, pá. Olha lá, já recebeste aí algum telefonema lá de cima a falar da alínea 10 do ponto 8 do RGC?”

Decisor F

“Epá, nem sei do que tás a falar. A alínea quê, pá?”.

Decisor Clube

“#$#$rra, pá.. A 10 do 8 do RGC (Regulamento Geral de Competições) que diz que não são admitidas equipas conjuntas nos campeonatos de seniores, pá”.

Decisor F

“Pá, os telefonemas que eu recebo são comigo. Agora, pá, uma coisa te garanto, aqui ninguém faz nada sem eu querer, “#”#rra. E essa conversa da democracia e dos votos dos sócios, a mesma “#”#rra, pá”.

Decisor Clube

“#$#$rra, pá. Então leste, pá?”.

Decisor F

(aos berros)

“#$#$rra, pá, sei lá se li ou não, pá. Nem me lembro onde estacionei o carro há cinco minutos, pá. Mas tu não ouves o que eu te digo, pá? Aqui quem decide sou eu, pá”.

Decisor Clube

“Pronto, pá. Era isso que eu queria ouvir, pá. Tudo top. Mas, olha lá, os gajos lá de cima não pediram nenhuma assembleia ao abrigo do 28 do RGC?”

Decisor F

(continuando aos berros)

“Mas o que é que se passa contigo, pá? #$#$rra, Não te preocupes, pá, que eu é qua mando nisto tudo, como o outro, pá”.

Decisor Clube

“Top, cinco estrelas, pá. E, olha, e aquilo das miúdas, pá?”.

Decisor F

“Aquilo das miúdas, o quê, pá?”

Decisor Clube

“Pá, aquilo de elas terem de jogar, pá”.

Decisor F

“Pá, o que eu te digo é que ainda ontem fui almoçar à chafarica (leia-se Solar dos Presuntos) e o desgraçado do Aníbal, o empregado, disse-me que anda doente da tola porque o filho é gay. Isto está tudo de pernas para o ar, pá”.

Decisor clube

#Espectáculo, pá. O que é que me estás a dizer, pá?”.

Decisor F

“A dizer, pá? Nada, pá. Tu é que mandas na tua casa, pá”.

Decisor clube.

“Ok, pá, espectáculo. Olha, abraço”.

Decisor F

“Abraço, pá. Beijinhos à Maria e aos miúdos, pá”.

Os telefonemas dos decisores dos restantes cinco clubes serão iguais, mas usando, em três dos casos, o “você” quando se dirigem ao decisor federativo, e sem empregar o termo caloroso “pá”.

Sem conversas, mas com muitas mensagens no whatsapp, irão correr do mesmo modo as discussões relacionadas com o estatuto dos treinadores e dos quadros técnicos, bem como as que têm a ver com o estatuto dos jogadores.

Existirão, sem dúvida alguma, treinadores, quadros técnicos e jogadores que encetarão, por whatsapp, as discussões.

Os treinadores e quadros técnicos não se sentirão seguros para avançar, porque temem a perda arbitrária e por decisão simples dos seus postos de trabalho, na federação e nos clubes.

Os jogadores irão desistir porque não conseguirão reunir 50 por cento das jogadoras e 60 por cento dos jogadores dos seis grandes, e só chegarão a 45 a 55 por cento das jogadoras e dos jogadores dos outros clubes.

Será assim porque grande parte das jogadoras e dos jogadores que leva a competição a sério será vivamente aconselhada pelos pais e pelos Senadores a não perder o seu tempo com o que classificarão de parvoíces e acha que está suficientemente confortável para no futuro próximo trazer o pão para casa, dadas as redes familiares em que está inserido.

Todo este cenário, que, repito, é o mais provável, só poderá ser alterado por um potencial sismo, como escrevi.

Ao contrário do que muitos pensam, o Senhor Presidente da FPR não foi eleito decisivamente para segundo mandato, não contando com os do passado, pelos votos do Direito e da Agronomia, apesar de cada um destes clubes ter quatro votos, quando a maioria dos clubes tem dois.

O Senhor Presidente foi eleito pelos votos dos clubes de fora de Lisboa Central e de segundo nível competitivo, não sendo isto uma ofensa, porque respeito todos estes clubes, mas uma avaliação técnica racional.

A este propósito, devo referir, se tomarmos como válido este contexto estratégico, o Senhor Presidente é um excelente político e um excelente presidente (cá estou eu a o elogiar, de novo).

Ao nível nacional e da sua base de apoio, criou competições para todos os escalões de todos os clubes, o que mata com trabalho o Salvador e o Damasceno, fazendo a felicidade de todos.

Ao nível nacional de topo, que é parte reduzida da sua base de apoio, e ao nível dos adeptos informados e mal informados, levou os Lobos ao mundial, criando em todos nós a felicidade suprema.

Não estou a criticar de modo algum todos os Lobos, do Seleccionador ao Zé Carlos, incluindo todos os jogadores.

Pelo contrário, são um grupo formidável, e lá estarei para os apoiar.

Mas, estou a escrever que eles são um topo que não reflecte a base, como já aqui apontei, sendo assim um universo à parte.

Como escrevi, o contexto do râguebi português só mudará com um potencial sismo.

O que terá uma possibilidade escassíssima de acontecer é que os clubes do Norte, que são a base de apoio fundamental do Senhor Presidente, se a esta juntarmos o CRE, percebam que sem o ROP nunca chegarão aos títulos, em todos os escalões, e desenterrem a bandeira.

Não esqueçamos que foi em Guimarães que começou Portugal, e que aquela malta minhota, transmontana, beirã e do Oeste é rija como o diabo.

Se pensarem estrategicamente, irão, como escrevi, desenterrar a bandeira, e arrancam por aí abaixo até à terra dos mouros, ocupando a assembleia geral extraordinária que requereram, para mudar leis e regulamentos.

Se isto acontecer, mas não vai acontecer, tudo muda num Verão.

Claro que os LPL (Linces da Planície e da Lezíria) também têm todas condições para avançar.

Mas as personalidades dos presidentes do CRE e do RCM, a que se junta o facto de ninguém querer aturar a tempestade que o Vasco Lobo e os seus congéneres do Castelo da Dança iriam fazer, imobilizará o LPL.

Como, em princípio, ninguém vai fazer o primeiro movimento, vamos continuar a não existir, como não existimos hoje, e nunca existimos.

Termino então com o que referi que temos de mais importante para fazer.

Nós temos um valor desportivo e comunicacional fabuloso, só igual ao do xadrez, como já escrevi.

Somos o desporto mais inclusivo que existe.

O banhinhas tem lugar, o baixinho tem lugar, o alfinetes tem lugar, a betinha tem lugar, a maria rapaz tem lugar, o choné tem lugar, a descoordenada motora tem lugar, o chega aos figos tem lugar, o soneca tem lugar, a tótó tem lugar.

Qualquer que seja o perfil mental ou físico da potencial jogadora ou do potencial jogador, tem sempre lugar.

É esta fabulosa base de valor — desportivo, comunicacional, financeiro e político- que nos pode permitir entrar no imaginário nacional e ganharmos massa crítica.

Quando tivermos esta massa crítica, teremos financiamento público e privado, e cobertura política.

Infelizmente, para isso precisamos de cumprir as etapas que partilho neste texto.

Não vão ser cumpridas.

Boa sorte, bom trabalho e melhor râguebi para todas e para todos.

NOTAS DE METODOLOGIA E OBJECTIVO DO AUTOR

Este texto tem como único objectivo ser base de trabalho de qualquer pessoa interessada em trabalhar para um melhor râguebi nacional.

O autor do texto não tem absolutamente objectivo algum de o usar para atingir qualquer fim profissional, institucional ou desportivo.

Do mesmo modo, o autor do texto não tem rigorosamente objectivo algum de o usar para atingir qualquer indivíduo ou instituição.

O humor fixado no texto obedece a uma estratégia narrativa e à crença de que nunca nos devemos levar muito a sério, a começar, como sabe quem conhece o autor, por nós próprios.

O texto foi escrito entre 8 de Março de 2023 e 18 de Abril de 2023 e editado entre 24 de Abril e 2 de Maio de 2023.

A investigação directa para a recolha de dados foi feita entre 14 de Outubro de 2022 e 28 de Fevereiro de 2023.

A investigação indirecta começou em 2002.

As fontes utilizadas para a feitura desta narrativa estão acantonadas em várias tipologias, a maioria das quais de acesso público.

Na tipologia académica, devem ser tidos em conta os artigos científicos da Faculdade de Motricidade Humana, bem como os periodicamente colocados nas plataformas digitais das federações neozelandesa, inglesa e irlandesa.

Na tipologia técnica, devem ser tidos em conta as plataformas digitais da World Rugby, da Rugby Europe, da Guiness Six Nations, da Federação Portuguesa de Rugby e dos 51 clubes nacionais, bem como os vários media generalistas e especializados, em língua inglesa.

O INE, a PORDATA e outras plataformas de dados quantitativos globais e sectoriais são fundamentais.

Para trabalho analítico sobre o desporto como negócio global, a referência é “The Economist”.

Dada a escassez de informação nacional disponível, especialmente a possuída pela federação, qualquer investigação de qualidade requer um trabalho permanente de observação no terreno e de contacto periódico com peritos e com agentes de todas as tipologias envolvidas no râguebi.

O autor incentiva e agradece qualquer contributo, factual ou opinativo, que possa aumentar o seu conhecimento. Todos estes podem ser enviados para jvegar13@gmail.com

JOSÉVEGAR2023

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José Vegar

Fieldwork & Narrative since 1969. Lisbon, Portugal.